Começou na tarde do passado sábado a edição deste ano do Cistermúsica. O primeiro dado importante a reter no enquadramento informal de notas soltas por que optei para aqui publicar as minhas opiniões sobre o Festival de Música de Alcobaça de 2006 é o feliz facto de Alexandre Delgado se manter como director artístico daquele que é o mais importante evento cultural apresentado em Alcobaça. O que permite que mesmo com um orçamento muito mais baixo que os mais qualificados festivais de música nacionais o de Alcobaça se mantenha de há cinco anos a esta parte nesse elevado patamar de qualidade artística e programática...
Foi o próprio Alexandre Delgado que iniciou o Cistermúsica 2006 por sua conta e risco, apresentando ao fim da tarde de sábado, 20 de Maio, no Pequeno Auditório do Cine-Teatro de Alcobaça, a sua palestra Mozart: Luzes e Sombras do Classicismo, cujo temática ondeava entre a análise das Sinfonias nº 26 e nº 40 de Mozart, um dos homenageados, num ano em que na concepção temática do Festival de Música de Alcobaça predominam algumas das mais importantes efemérides musicais do ano em termos de centenários do nascimento e falecimento dos compositores Mozart, Schumann, Chostakovitch, Armando José Fernandes e Fernando Lopes-Graça. Como é habitual em praticamente tudo o que Alexandre Delgado faz aquela palestra correu mesmo muito bem, com o palestrante a disseminar a sua sabedoria e o seu bom humor de um modo culto e interessante, perante um número de espectadores bem mais composto que o normal em acontecimentos deste género...
À noite, no Cine-Teatro, foi apresentado o primeiro concerto do Cistermúsica 2006, espectáculo sinfónico em que a Orquestra do Norte, dirigida pelo Maestro Cesário Costa, actuou perante um auditório quase repleto de espectadores. Contudo, o concerto até nem começou de um modo muito bom, dado que a interpretação da Sinfonia nº 26 de Mozart não conseguiu fazer justiça àquela composição, tendo aquela orquestra essencialmente desiludido pela sua falta de força e convicção, dando a impressão que estava a actuar com metade da eficiência e dos efectivos necessários. A Abertura Manfred de Robert Schumann foi a interpretação que se seguiu, já um bocadinho melhor e mais convincente, mas ainda muito longe do que se esperava de Cesário Costa e dos seus músicos. Seguidamente tudo melhorou, e a interpretação do Concertino Para Violeta e Orquestra de Fernando Lopes-Graça acabou por ser a melhor e mais densa interpretação da noite, acima de tudo pela brilhante presença em palco do solista Jano Lisboa, violetista que se mostrou muito seguro e de uma excelência interpretativa muitos furos acima da orquestra que o acompanhou. Da música do bailado O Homem de Cravo na Boca, de Armando José Fernandes, que se seguiu no alinhamento do concerto, pouco haverá a dizer, dando mesmo a clara sensação de que o trabalho criativo daquele compositor nunca se conseguiu distanciar muito da música ligeira... Para terminar a noite, foram interpretadas as seis peças da Suite de Bailado nº 1 de Dmitri Chostakovich, que acabaria por ser o grande triunfador da noite, em termos de agrado do público, o que motivou mesmo um duplo encore com a repetição de duas dessas peças. No final poderá dizer-se que este concerto até não foi mau, mas poderia ter sido efectivamente muito melhor!
Na tarde do domingo seguinte já a coisa piou muito mais fino, no Convento de Cós, num concerto de música de câmara em que actuou o muito aguardado Cuarteto Casals, cuja actuação fez juz à excelente qualidade técnica e interpretativa que se esperava, num espectáculo que foi pura e simplesmente fantástico. Chostakovich voltou a ser a grande figura do dia, em termos de compositores interpretados neste Cistermúsica 2006, tendo o seu Quarteto nº 3 em Fá Maior agradado sobremaneiramente a um público que novamente compunha muito bem a sala, deixando poucos espaços vazios e aplaudiu aquela composição com um ímpeto raramente ouvido por estes lados. Todavia, o Cuarteto Casals deu também muito boa conta de si na interpretação do Quarteto nº 3 em Mi bemol Maior de Juan Antonio Arriaga e no Quarteto nº 15 em Sol Menor de Franz Schubert, demonstrando uma qualidade e um profissionalismo a toda a prova, justificando mesmo que se escreva que este terá sido um dos melhores espectáculos de sempre no Festival de Música de Alcobaça. Porém, o melhor do Cuarteto Casals ainda estava para vir e acabou por registar-se num notável e muito sintético encore em que aquele quarteto de cordas acabou mesmo por mandar completamente o seu público às cordas, extasiado perante a sua irresistível interpretação da Canção do Mouro de Manoel de Falla! Depois do autêntico tiro no porta-aviões que foi este concerto no Convento de Cós, vamos lá a ver como é que o festival se vai aguentar num próximo fim-de-semana em que me parece muito difícil repetir a elevada categoria deste espectáculo. On verra...
Monday, May 22, 2006
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