Saturday, December 30, 2006

ONDE PÁRA O LOBBY PARA A INCLUSÃO DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA NAS SETE MARAVILHAS DE PORTUGAL?

Já aqui se escreveu sobre a provável e possível inclusão do Mosteiro de Alcobaça entre os sete eleitos na decorrente votação para escolha das Sete Maravilhas de Portugal. Muito se falou e escreveu sobre o assunto, com especial destaque para a blogosfera alcobacense e para a nossa edilidade, que chegou mesmo a intuir haver necessidade e interesse em promover um lobby que influenciasse a eleição do Mosteiro de Alcobaça entre essas Sete Maravilhas de Portugal. Muito se falou e escreveu, mas nada se fez, como é infelizmente habitual nesta "orgulhosa" cidade...
Vem esta introdução a propósito de alguns sinais que evidenciam que os outros candidatos a tal lugar não estão a descansar à sombra da bananeira e a ver os outros passar, promovendo já as suas candidaturas. Um desses sinais é uma votação hoje publicada no suplemento Fugas do diário Público, que divulga uma votação feita na sua redacção e a escolha dos colaboradores daquele jornal. O Mosteiro de Alcobaça não figura entre aqueles sete mais votados e é curioso assinalar que entre eles se encontram nossos vizinhos como o Castelo de Óbidos e o Mosteiro da Batalha... Será então caso para aqui perguntar: Onde pára o tal lobby de (Mosteiro de) Alcobaça?

UM POEMA (PÓS) NATALÍCIO DE MIGUEL TORGA

HISTÓRIA ANTIGA

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto;
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenino
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

MIGUEL TORGA

Friday, December 29, 2006

BRAD MEHLDAU, QUE ACTUARÁ EM JANEIRO NO CINE-TEATRO DE ALCOBAÇA, É A FIGURA DE CAPA DA EDIÇÃO DE JANEIRO DE 2007 DA REVISTA DOWN BEAT

Já se sabe que o notabilizado pianista de jazz Brad Mehldau actuará em Alcobaça, no Cine-Teatro, em 25 de Janeiro de 2007, naquele que certamente se afigura como o primeiro grande concerto do ano na nossa cidade. Para os alcobacenses mais interessados nestas coisas, podemos aqui adiantar que aquele notabilizado pianista norte-americano será a figura de capa da edição de Janeiro de 2007 da conceituadíssima revista de jazz norte-americana Down Beat, que no seu interior incluirá um acertadíssimo artigo de fundo sobre Brad Mehldau, de autoria de Dan Ouellette. Nesse artigo intui-se que "Brad Mehldau é o mais influente artista de jazz da sua geração", o que não deixa de ser um interessante aperitivo para o seu concerto de Alcobaça...

UM POEMA DE NATAL DE GOMES LEAL

OS REIS MAGOS

Nas torres, olhando os astros,
que viajam pelos céus,
Os Reis Magos viram rastros
do avatar de um grande Deus.

Leram em livros profundos,
que a Caldeia e Assíria têm,
que estava a descer dos mundos
um Deus a Jerusalém.

Cheios de assombro à janela,
mudos ficam os seus lábios!
De pé olhando uma estrela,
velam noites os reis sábios.

Não querem mais alimento,
nem com rainhas dormir.
Não tomam ao trono assento!
Não mais volvem a sorrir!

Somente olham, sem cessar,
a branca estrela brilhante
como o ceptro dominante
do rei que vai a reinar.

Abraçam a esposa amada.
Dão as chaves aos herdeiros.
Mandam vir seus escudeiros.
Os seus bordões de jornada.

Despejam os seus erários,
cheios de alvoroço imenso.
Carregam seus dromedários,
d'ouro, de mirra, de incenso.

Passam rios e cidades
cheias de estátuas guerreiras,
palácios, campos, herdades,
cisternas sob as palmeiras.

Seguem a luz do astro belo,
que as estradas lhes clareia,
até chegar ao castelo,
do rei que reina em Judeia.

Chegados ao rei cruel,
que de Herodes nome tem,
bradam: "O Rei de Israel
nasceu em Jerusalém?..."

Fica assombrado o Tetrarca,
Diz-lhes tal nova ignorar.
- "Mas em nome da Santa Arca,
voltai, reis, ao meu solar!"

Seus olhos ficam sombrios:
vê perdido o seu tesouro,
soldados, terras, navios,
da Judeia o ceptro de ouro!

Tomam os reis seus bordões
Levantam as suas tendas,
Carregam suas oferendas,
Demandam novas regiões.

Passam rios e cidades
cheias de estátuas guerreiras,
palácios, campos, herdades,
cisternas sob palmeiras.

Passam colinas, rebanhos,
campos de louras searas,
quando a lua faz desenhos
no chão das estradas claras.

Passam o quente areal
que a palmeira não conforta.
Eis que a estrela pára à porta
de um decrépito curral.

Descem dos seus dromedários,
cheios de pó os reis sábios.
Descarregam seus erários.
- Mas estão mudos seus lábios.

Rojam as barbas nevadas
Sobre o Deus que adormecera.
Com as mãozinhas rosadas
da Mãe nos seios de cera.

Seus olhos sentem assombros
e nadam cheios de choro.
- Rasgam seus mantos de ombros.
- Dão-lhe mirra, incenso e ouro.

Esquecem sua nação
mais seus carros de batalha.
- Seus ceptros rolam na palha!
- Seus diademas no chão!

E erguendo seus olhos graves,
perguntam então - olhando
as pombas voando em bando,
os aldeões, mais as aves.

"É este o rei dos senhores?
Tábua da Lei das rainhas?
Por archeiros - tem pastores.
Por pagens - as andorinhas."

GOMES LEAL

Thursday, December 28, 2006

UMA CANTIGA POPULAR DE NATAL MINHOTA

CANTIGA DOS REIS

Santos Reis, santos coroados
Vinde ver quem vos coroou
Foi a Virgem, mãe sagrada,
Quando por aqui passou.

O caminho era torto
Uma estrela vos guiou
Em cima de uma cabana
Essa estrela se pousou.

A cabana era pequena
Não cabiam todos três;
Adoraram Deus-Menino
Cada um por sua vez.

CANTIGA POPULAR DE BARCELOS
Recolhida por Luísa Miranda

Wednesday, December 27, 2006

UM POEMA DE NATAL DE GIL VICENTE

BRANCA ESTAIS E COLORADA

Branca estais e colorada
Virgem sagrada
Em Belém, vila de amor
da rosa nasceu a flor
Virgem sagrada!
Em Belém, vila de amor
nasceu a rosa do rosal,
Virgem sagrada!
Da rosa nasceu a flor
para nosso Salvador:
Virgem sagrada!
Nasceu a rosa do rosal,
Deus e homem natural:
Virgem sagrada!

GIL VICENTE

Tuesday, December 26, 2006

NATAL É SEMPRE QUE UM BLOGUE QUISER! O NAS FALDAS DA SERRA CONTINUA A PUBLICAR POESIA DE INSPIRAÇÃO NATALÍCIA ATÉ AO FINAL DO ANO...

BALADA DA MEIA-NOITE

Em fria noite de Inverno
Viu a luz o Deus-Menino,
Nesta noite de Natal,
És meu Sol e meu Destino!

És meu Sol e meu Destino
A aquecer-me na friagem,
Nesta noite de Natal,
Amanhece a tua imagem!

Amanhece a tua imagem
P'ra além da noite estrelada,
Nesta noite de Natal,
És a minha madrugada!

És a minha madrugada,
És a árvore da Vida,
Nesta noite de Natal,
Noutras vidas repartida!

Noutras vidas repartida,
Feitas carne, feitas luz,
Nesta noite de Natal,
- Novos Meninos Jesus!

FERNANDO DE PAMPLONA
Pássaro de Bruma, 1983

NAS FALDAS DA SERRA COMEMORA HOJE O SEU 1º ANIVERSÁRIO

Pois é. Parece que começámos ontem. Todavia, já passou um ano após a publicação da nossa primeira postagem. Sendo assim, agradecemos encarecidamente a quem durante este ano nos visitou, leu, comentou e divulgou. Aproveitamos para recordar duas características que pensamos essenciais neste blogue: o Nas Faldas da Serra é exclusivamente um blogue de texto e pretende desde o seu início não ser um blogue cinzent(ã)o... Prometemos (aqui) continuar!

Monday, December 25, 2006

UM POEMA DE NATAL DE VITORINO NEMÉSIO

NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na minha pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.

VITORINO NEMÉSIO

Sunday, December 24, 2006

UM POEMA DE NATAL DE VINICIUS DE MORAES

POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais, esperaremos...
Hoje a noite é jovem, da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

VINICIUS DE MORAES
O Operário em Construção, 1975