Monday, March 27, 2006

O AMOR POETIZADO DE UM MODO QUE A COMISSÃO DE CENSURA NÃO GOSTOU E PROIBIU!

ENTRE NÓS E O TEMPO

Assim... meu amor
penetra o tempo

as ancas devagar
as pernas lentas

o charco dos teus
olhos
e a laranja a palpitar dentro
do meu ventre

Assim... meu amor
penetra o tempo

a boca devagar
os dedos lentos

a raiva do punhal que enterras
no sol pastoso
do meu ventre

Assim... meu amor
penetra o tempo

os rins devagar
o espasmo lento

MARIA TERESA HORTA

4 comments:

VR said...

O que acha que aconteceria hoje se alguém tentasse publicar num manual de língua portuguesa do 10º ano este poema belíssimo da Maria Teresa Horta? E se fosse traduzibdo para inglês, acha que alguém no seu perfeito juízo o publicaria nos EUA? Para o JAV ver qua a censura é hoje tão real quanto o era antes dessa data abrileira que maercou este país, sugiro-lhe que visite por exemplo este site:

http://georgesuttle.com/censorship/censors-all.shtml

José Alberto Vasco said...

Já agora, recordo-lhe outro género de censura que havia antes do 25 de Abril, que era o de os programas de literatura nunca serem dados completos nas escolas e liceus,sendo então usual a esfarrapada desculpa de não haver tempo para dar os escritores do séculos XX... Quem queria, por exemplo, estudar Fernando Pessoa, tinha de o fazer em casa, por conta própria. Isso hoje já não se passa, mas a verdade que nem toda a literatura portuguesa dos séculos XX e XXI lá continua a caber... É também o caso de muitos poetas...

José Alberto Vasco said...

Desculpe Valdemar, mas esqueci-me de uma coisa no meu comentário anterior. Esse esquecimento tem a ver com a sua expressão "dessa data abrileira que marcou este país". Concordo e penso que ninguém o pode negar, que aquela data efectivamente "marcou este país", para o bem ou para o mal... Tenho é de lhe dizer que não concordo mesmo nada com a sua expressão "data abrileira"... Não lhe peço que se retrate (longe de mim tal intento, dado não me considerar fundamentalista de coisíssima nenhuma). Tenho é de lhe referir e sublinhar que da minha parte tenho um enormíssimo respeito por aquela data, pelo que nela se passou e pelas possibilidades que ela nos abriu... É claro que não concordo com tudo o que se passou a partir daí, nem com o aproveitamento que muitos oportunistas de meia tijela dela fizeram (gente pela qual não tenho qualquer respeito e cujo comportamento continuo a criticar e lamentar)...
Caro Valdemar, para mim o importante é, escrevamos assim, o lado romântico da chamada "Revolução dos Cravos": deve ser por isso que continuo a não ser rico nem enriqueci com o "25 de Abril"...

VR said...

Nem eu meu caro JAV. Um abraço e continue a pensar sempre com a sua cabeça!