Sunday, May 31, 2009

O CINEMA CONTINUA A IR À ÓPERA, NO CINE-TEATRO DE ALCOBAÇA, ESTA SEMANA COM O BELO E VISCERAL O REI DAS ROSAS, DE WERNER SCHROETER

ciclo de cinema
-O CINEMA VAI À ÓPERA-
Cine-Teatro de Alcobaça
em colaboração com o XVII Cistermúsica
de 19 de Maio a 16 de Junho
às terças às 21h 30
-2 de Junho . Terça-Feira . 21h 30-
-O REI DAS ROSAS-
de
-Werner Schroeter-
Drama intenso e operático, rodado em Portugal pelo realizador alemão de culto Werner Schroeter, que nos oferece a derradeira interpretação de Margarida Montezuma ao som da música de Puccini, Toscanini, Verdi e Mozart.
extracto de um texto de Ricardo Parodi sobre O Rei das Rosas:
"Magdalena Montezuma foi a atriz fetiche de boa parte dos filmes de Schroeter. Foi sua amiga e conselheira. Foi sua promotora nalgumas ocasiões. Em 1983 é-lhe detectado um cancro em estado avançado. Não é possível operá-la e a quimioterapia não faz efeito. Mesmo assim, ela tem um desejo que carregou por mais de quinze anos: realizar um filme baseado em vários poemas de Edgar Allan Poe. Schroeter move céus e terra buscando fundos para poder concretizar o filme. Endivida-se até os cabelos mas finalmente consegue realizar “O Rei das Rosas” (Der Rosenkönig 1984-1986). O filme é o testamento artístico de Montezuma que morre três meses depois do término da rodagem. É um filme totalmente barroco, desmesurado, desde seu tema: uma mulher quer conseguir as rosas mais vermelhas jamais criadas, quer conseguir a perfeição das rosas, a “vermelhidão” (o conceito de vermelho) perfeita. Para isso regará seus roseirais com sangue fresco de um jovem assassinado. Trata-se de alcançar a perfeição a qualquer custo. Qualquer custo deve ser pago para alcançar a perfeição da obra de arte? Parece que Magdalena e Werner são capazes de afirmar que sim. A fotografia de “O Rei das Rosas” está pregnada de detalhes, com uma iluminação saturada de cores fortes. Novamente a localização escolhida é a Itália. Lá se lerão diversos poemas de Poe e outros textos escritos pela própria Montezuma. Um revólver, uma rosa e a luz intensa de um projetor de 16 mm. Um céu estrelado construído com fogos de artifícios, como se se tratasse de um teatro de ópera. Teias de aranhas nos cantos de uma velha residência. Gestos e olhares suspeitos. Tentativas de envenenamento. Sempre, em todo momento, a presença da morte morde a imagem em “O Rei das Rosas”. Mas o filme, como a arte, é a negação da morte. O filme é a afirmação da vida pela graça da arte. E é também como se o próprio Schroeter se quisesse transformar num novo senhor Valdemar para hipnotizar sua amada Magdalena e que esta permaneça numa semi-vida (a do cinema) que se esquiva da morte. Verdi, Vangelis, Mozart, Puccini, Jacques Brel, e outros anjos da música são convocados para colaborar em tal tarefa. Também a literatura vem ao resgate. Essa pulsão literária de que falamos quando comentamos o trabalho de Syberberg com Clever, reaparece aqui como um artifício glamoroso do afecto. De afectos e distâncias, de espaços despejados, de uma noite eterna que povoa as tristes habitações onde se lêem poemas, tudo isso rodeia a solidão onde Montezuma se despede da arte, ou melhor dizendo, da vida. O "Rei das Rosas” supõe a presença líquida do sangue como elemento necessário para a sustentação da paixão e da busca da perfeição...".
Trata-de um filme simultaneamente belo e visceral, tão eterno como o verdadeiro amor e tão genial como a mais profunda paixão. Absolutamente imprescindível!

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