No próximo dia 5 de Abril, Sábado, pelas 21.30 horas, o Enterro do Bacalhau sairá à rua.A realização está a cargo do Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico e nela participam mais de 300 figurantes, entre padres, freiras, um bispo, um sacristão, pescadores, varinas, músicos, etc., etc., etc..O cortejo tem 1,5 km, com 4 paragens para outros tantos sermões.Demora entre 1,5 e 2 horas.A partir das 18.00 horas, no pavilhão/sede do Clube, realizar-se-á o III Congresso Gastronómico doBacalhau, evento cujo nome dispensa comentários...Se quiserem ver uma coisa única no país, pela sua piada e grandiosidade...Se quiserem passar um Sábado à noite diferente e muito divertido...Se quiserem comer um bom bacalhau assado na brasa, com migas, sarrabulho ou com batatas e grão...Venham ao Soutocico, terra de tradições e de gente simpática.Se perderem a oportunidade, só terão outra igual daqui a 4 anos.
Apresentação do Enterro do Bacalhau:
O cortejo fúnebre "Enterro do Bacalhau", tradição de riquíssimo valor cultural que se perde nos anais do tempo, é representado pelas gentes do lugar do Soutocico, numa manifestação teatral com cerca de duzentos e cinquenta figurantes. Esta peça popular de cariz marcadamente pagão, percorre as ruas da aldeia na noite de Sábado de Pascoela e termina numa monumental ceia de bacalhau para todos os presentes.Representado em 1938 pela 1°. vez no lugar do Soutocico, constituiu tal êxito, na altura, que passou a ser o ex-libris histórico-cultural das pessoas da povoação, não obstante o mesmo ter sido proibido pelo regime de Salazar, a pedido das Instâncias Religiosas.Mas aconteceu Abril, as saudades do "Enterro do Bacalhau" eram tantas que o Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico decidiu reeditar o evento, fazendo para tal uma pesquisa apuradíssima. Reunidas, pois, as condições necessárias para a representação, e muito embora as autoridades religiosas voltassem a manifestar-se contra, certo é que voltou ás ruas em 1976, pela primeira vez na chamada era da liberdade, após 38 anos de esquecimento. E seguiu-se em 1977, 1980, 1983, 1992, 1996, 2000 e 2004. Curiosamente, era nas gentes mais simples e convictamente ligadas à igreja, que mais se fazia sentir o entusiasmo transbordante pela representação da peça.
A tradição do "Enterro do Bacalhau" parece remontar ao século XVI, durante o movimento contra-reforma.Sabe-se que o Concílio de Trento, conferindo á Igreja Católica o poder centralizado e o autoritarismo que possuía antes da Reforma de Lutero e Calvino, levou a que a nova Inquisição combatesse em força as chamadas heresias, independentemente da perseguição aos dos Evangelhos atrás citados. Esta Igreja que proibia o consumo total da carne durante a Quaresma, abria um precedente a todos aqueles que comprassem a bula. Este indulto só servia os mais abastados, que o podiam pagar, enquanto os desfavorecidos, a grande maioria afinal, teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação durante as sete semanas da Quaresma. O peixe mais acessível era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas teve de abdicar, não sem que antes criasse esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua impotência.O bacalhau implantou-se assim nos lares dos pobres, sendo o seu salvador. Cozinhado de mil maneiras diferentes, ele foi absoluto durante o período daQuaresma findo o qual o tribunal fantoche dos filhos o julgou e o condenou a morte, por inveja da sua popularidade. O advogado de acusação, o traidor "Filho da Maria Malvada", cujas origens eram de um mero filho do povo, fundamentou o seu ataque no facto de, durante o período de abstinência, só lhe ter calhado do mal-cheiroso, do escamudo, do mal-curtido, do seco e do rabo e asa.
Esta traição enraiveceu uma vez mais toda aquela gente simples que, durante o cortejo, pede a sua cabeça, para que se faça justiça ao bacalhau.Os três principais sermões: "Vida e Morte do Bacalhau", "Testamento do Bacalhau" e as "Exéquias do Bacalhau", formam com as quadras cantadas ao som da marcha fúnebre de Chopin, um espectáculo digno de ser visto. Para além dos três sermões apontados, é tradição do Soutocico, a queima do Judas, no mesmo dia e após o enterro. Logo que o bacalhau desce á cova, segue-se um sermão ao Judas que começa "...São Cipriano por Belzebú te invoco, pote das almas, oucinho cru, bruxas do inferno, luzecus do além, penas de corvo, sangue de frango, louvo o tranglomano, para sempre louvado, pater, filho e espírito sentado ..."Seguidamente, o Judas é queimado e rebentado entre alaridos e gáudio da multidão.Imagine-se a descida, da calçada, no centro do lugar, com, um matizado fantástico dos coloridos trajes, grotescamente iluminados pela, infinidade de archotes que acompanham o cortejo. A definição só pode ser uma:Esplendoroso! Ultrapassa tudo quanto há de imaginável em teatro popular de rua.
Será certamente inesquecível!
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