Saturday, February 18, 2006

UM BELÍSSIMO POEMA SOBRE A SERRA DOS CANDEEIROS

Embora esse facto tenha suscitado alguns protestos, este blogue deciciu dedicar integralmente esta semana à comunicação "Um Livro- Uma Conferência", que o historiador António Valério Maduro proferirá amanhã, às 15 horas, nos Moleanos, no Lagar do Barreirão. Fizemo-lo porque pensamos que quer aquele historiador quer o seu oprimido livro "A Produção do Azeite nas Terras de Alcobaça" o merecem, não só pela indiscutível qualidade daquela obra literária como pela lamentável situação a que uma enorme maioria dos seus exemplares tem estado inquisitorialmente sujeita, retida em caixotes num armazém do museu que a encomendou, desde 2002... Numa minha última tentativa de seduzir alguns indecisos, tomei a liberdade de aqui editar um belíssimo poema de José do Carmo Francisco, publicado na edição de 31 de Janeiro deste ano do mensário A Voz de Alcobaça. Bem hajam!

BALADA DA SERRA DOS CANDEEIROS

Grande parte da minha vida
Feita de paz e sem guerra
Foi uma casa construida
Com pedras daquela serra (mote)

Na Serra dos Candeeiros
Parava o vento do mar
Eram lentos os carreiros
Com os olhos a cantar

Traziam pedras gigantes
Para a mão dos britadores
Fazer em poucos instantes
As pedras dos construtores

Os pedreiros sujos de cal
A pegar no fio de prumo
Que traça numa vertical
Lugar do fogo e do fumo

Sem desenhos ou papéis
Nascia a planta dum lar
Quatro canas dois cordéis
São os limites dum lugar

Na Serra dos Candeeiros
O azeite era o mais puro
Os ventos tão verdadeiros
A cantar por sobre o muro

Vinha a água das cisternas
Sempre boa e sempre fria
Sem as técnicas modernas
A limpeza era uma enguia

Vinha o leite já fervido
Vinha o queijo saboroso
O dia era mais comprido
Tudo era mais vagaroso

A pedra que me defende
Do Verão e do Inverno
Não se apaga nem se vende
É um valor forte e eterno