Saturday, June 17, 2006

ALCOBAÇA DANÇA UM FANDANGO NO 24º FESTIVAL MÚSICA EM LEIRIA

Pois é. O Festival Música em Leiria já não vem a Alcobaça, mas Alcobaça continua a ir ao Música em Leiria. Em cujos espectáculos se continuam a ver muitos espectadores alcobacenses. Todavia, na próxima segunda-feira, 19 de Junho, Alcobaça estará presente de um modo diferente e muito especial num espectáculo da corrente edição daquele festival. À noite, a partir das 21 e 30, o Música em Leiria apresentará, no convincente Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, um recital em que actuará o pianista brasileiro José Eduardo Martins. No que respeita a Alcobaça, a novidade é que uma das composições que ele ali irá interpretar serão as Viagens na Minha Terra, composta por 19 pequenas peças concebidas por Fernando Lopes-Graça a partir de uma lembrança da obra literária de Almeida Garret. Uma dessas pequenas peças é mesmo dedicada a Alcobaça, sob a intitulação de Em Alcobaça Dançando Um Velho Fandango. Não deixa de ser curioso e mesmo muito interessante...

Friday, June 16, 2006

NOTAS SOLTAS E BEM DIZENTES SOBRE O OITAVO E ÚLTIMO CONCERTO DO CISTERMÚSICA 2006

Pode escrever-se que, tal como era previsível, o Cistermúsica encerrou da melhor maneira, ontem à tarde, a sua décima-quarta edição. A Orquestra Gulbenkian e a Sinfonia nº 40 de Mozart atraíram ao Cine-Teatro de Alcobaça muitos espectadores, embora ainda não tenha sido desta vez que o Festival de Música de Alcobaça registou a sua primeira lotação esgotada desde o ano em que (finalmente!) começou a cobrar as entradas dos seus concertos. Ainda assim, foi muito consolador ver a plateia daquele auditório praticamente repleta, dando ainda lugar à ocupação de alguns dos lugares do balcão, onde se podiam mesmo ver algumas distintas personalidades locais...
Quanto ao concerto propriamente dito, foi-me grato verificar o excelente rendimento e a convincente performance que a direcção da Maestrina Joana Carneiro imprimiu à Orquestra Gulbenkian, que apesar de já ter até àquela data actuado várias vezes em Alcobaça, nunca o tinha feito no seu festival de música. Os momentos mais edificantes do concerto viveram-se na sua segunda parte, na qual todos fomos beneficiados com uma interpretação da Sinfonia nº 40 de Mozart em que orquestra e maestrina nos brindaram mesmo com todos os pontos nos iis, provocando, no seu final, uma estrondosa ovação de um público que me pareceu algo adormecido na primeira parte deste espectáculo... Nessa primeira parte, a Orquestra Gulbenkian interpretou a Sinfonieta de Fernando Lopes-Graça e a Suite Concertante Para Cravo e 0rquestra de Armando José Fernandes. E se na primeira o fez com a maior competência artística possível, já na segunda não terá conseguido o mesmo efeito, provavelmente devido ao facto de aquela composição e do cravo apresentado em palco não me terem parecido adequados às condições acústicas, logísticas e físicas do nosso Cine-Teatro, facto do qual não teve quaisquer culpas o cravista Marcos Fernandes, cuja performance não desiludiu, antes pelo contrário, embora a equivalência entre a sua actuação e a da própria orquestra lhe tenha sido muito desfavorável...
O saldo artístico deste concerto pareceu-me positivo, embora durante o seu intervalo alguns melómanos alcobacenses tenham mostrado opinião desfavorável, no que respeita ao equilíbrio entre as composições interpretadas na sua primeira e na sua segunda parte. Eu situo-me entre os que têm enaltecido o meritório trabalho de divulgação que o actual director artístico do Cistermúsica tem feito nos seus cinco anos de programação do festival no que respeita a compositores portugueses como Armando José Fernandes, Fernando Lopes-Graça, Frederico de Freitas, Jolly Braga Santos, Luís de Freitas Branco ou Viana da Mota, mas verdade é que existem já muitos melómanos locais que consideram que essa parte do "serviço público" inerente a um evento deste género já começa a estar algo completa e a cansar um bocadinho muitos dos espectadores do Cistermúsica. Houve até quem me tivesse perguntado (como se eu o pudesse saber...) se eu sabia qual o motivo por que é que a música de um outro compositor português do século XX, Ruy Coelho, não tem sido também incluída na programação do Festival de Música de Alcobaça... A isso não soube nem sei responder, mas verdade é que, por exemplo, teria ouvido com muito melhores ouvidos neste concerto música de outros compositores esta ano homenageados no Cistermúsica... Quanto a mim, este espectáculo teria tido muito melhores resultados em termos de "serviço público" se uma das composições da sua primeira parte tivesse sido suibstituída pela Sinfonia em Dó Maior op. 61 de Robertt Schumann (muitas vezes comparada à 5ª de Beethoven!) ou pela Sinfonia nº 10 de Dmitri Chostakovitch (a tal cujo irónico 2º andamento consta retratar a malvadez de Estaline contra aquele compositor!).
E assim se concluíu a bom gosto o XIV Cistermúsica- Festival de Música de Alcobaça, embora estas Notas Soltas Sobre o Cistermúsica 2006 no blogue Nas Faldas da Serra apenas sejam concluídas na próxima semana, com a publicação do meu balanço (e juízos para o futuro) sobre esta edição do festival, que provavelmente ocorrerá na tarde da próxima segunda-feira, esperando mais uma vez a melhor atenção dos simpáticos visitantes e opinantes deste blogue!

Sunday, June 11, 2006

NOTAS SOLTAS E DANÇANTES SOBRE O SÉTIMO ESPECTÁCULO DO CISTERMÚSICA 2006

Devo iniciar esta postagem com uma advertência aos seus prováveis leitores. Os mais atentos visitantes deste blogue já se terão certamente apercebido de que eu estou presentemente a acompanhar dois festivais de música em simultâneo: o XIV Cistermúsica e o XXIV Música em Leiria. Tenho-o conseguido sem grandes problemas, mas neste fim-de-semana a questão complicou-se bastante, dada a coincidência de datas entre dois espectáculos daqueles eventos. O de dança contemporânea pela CeDeCe no Cine-Teatro de Alcobaça (Cistermúsica) e o de música muçulmana e judaica no Reino de Al- Andaluz pelo Mudéjar, inicialmente previsto para o Mosteiro da Batalha, mas alterado para o Auditório da sua Câmara Municipal (Música em Leiria). Acabei por resolver o problema a contento, dado que o espectáculo de Alcobaça seria a repetição de outro igual, não integrado no Cistermúsica, também apresentado pela CeDeCe no mesmíssimo local (embora integrado na programação do Cine-Teatro de Alcobaça). Desse modo, e graças à amável disponibilidade de ambas as organizações, pude alterar a minha presença do espectáculo de sábado para o espectáculo de 6ª feira, o que, à partida, tornaria a contagem do público presente num e noutro espectáculo o meu único problema, facto que, contudo, nada alterou a minha análise sobre o espectáculo em causa, dado que os bailados apresentados eram precisamente os mesmos, interpretados pelos mesmíssimos bailarinos e pela mesmíssima companhia de dança.
Esclarecido este facto, deverei então aqui escrever que acompanho já a produção artística da CeDeCe desde 1992, ano em que participou na primeira edição do Cistermúsica, então ainda sob a sub- designação de Companhia de Dança Contemporânea de Setúbal. Logo de entrada foi então apresentado o bailado Alliens, coreografado e interpretado por Sónia Rocha, sobre música dos Queen, Goldsmith e Klauds. Na minha memória pairava então, em termos de dança, uma memorável apresentação do Grupo de Bailado Verde Gaio na nossa então Praça Dr Oliveira Salazar (hoje 25 de Abril) e a verdade é que logo fiquei cativado pelo trabalho artístico daquela companhia, então apenas prejudicada pelo facto de o local daquele espectáculo ter sido o para esses casos deficiente Refeitório do Mosteiro de Alcobaça. Apenas 3 anos depois consegui assistir a um espectáculo da CeDeCe suportado pelas devidas condições logísticas para público e intérpretes, quando em 1995 ela actuou no Cine-Teatro de Alcobaça, durante o III Cistermúsica, espectáculo essencialmente vincado na minha memória visual e auditiva por uma segunda parte em que foi apresentado o bailado O Autor, concebido por António Rodrigues sobre textos e canções de José Saramago (ouvindo Beethoven) e sobre A Pedra Filosofal de António Gedeão e Manuel Freire. Mal calcularíamos todos então que aquela companhia de dança ainda acabaria, um dia, por ficar sedeada em Alcobaça e que poderíamos ter muito mais vezes o privilégio de assistir aos seus cuidados espectáculos, nomeadamante nas 13ª e 14ª edições do Cistermúsica.
O espectáculo/ performance da CeDeCe a que assisti na passada 6ª feira no Cine-Teatro de Alcobaça (que se repetiria no sábado, englobando a programação do XIV Cistermúsica) era dividido em duas partes, na primeira das quais foi apresentada, em estreia absoluta, a peça Sevilha, coreografada pelo brasileiro Sávio de Luna a partir da obra poética A Educação Pela Pedra e Depois, de João Cabral de Melo Neto, em conjunção com música especialmente concebida por Danilo Guanais para esse efeito. Na segunda parte, foi apresentado, também em estreia absoluta, o bailado Lorca, coreografado pelo israelita Hofesh Shechter a partir do drama Bodas de Sangue, de Federico Garcia Lorca, sobre uma colagem musical entre música de Mozart, silêncio e música árabe, cujo autor o programa do espectáculo não esclarecia... Ambos os bailados tinham exemplar direcção de cena e eficiente desenho de luzes de António Rodrigues, numa noite em que a CeDeCe voltou a estar mesmo muito bem, apresentando bailados servidos por coreografias enleantes, movimentadas e tecnicamente muito bem conseguidas. Este espectáculo foi mais uma firme demonstração da qualidade do trabalho de direcção artística há vários anos desenvolvido por Maria Bessa e António Rodrigues naquela companhia de dança contemporânea, facto nesta 6ª feira novamente exibido por praticamente todos os bailarinos que ali actuaram. A CeDeCe voltou assim a encher-me (todas) as medidas em termos de produção artística e criativa, não podendo deixar de aqui incluir uma nota muito especial para os esboços e pinturas sobre bailarinos concebidos por Carlos Martins Pereira para a brochura/ programa deste belíssimo espectáculo de dança, co-produzido pelo XIV Cistermúsica- Festival de Música de Alcobaça. No que respeita à feliz ilustração musical de ambos os bailados, mereceu-me especial atenção a globalizante criatividade da composição programática de Danilo Guanais para Sevilha, bem como a tangencial conexão com o fio condutor da direcção artística deste XIV Cistermúsica musicalmente exposto pela colagem musical concebida para Lorca, na qual a utilização espacial do silêncio foi também notável. O único senão, pelo menos na noite de 6ª feira, é que a assistência a este excelente espectáculo de dança contemporânea não chegava às 7 dezenas de espectadores, facto pelo qual não me atrevo a deixar já aqui algum juízo definitivo, embora ache ter ali estado pouco público para o que a qualidade do espectáculo merecia e prometia. Ainda para mais numa altura em que o Cistermúsica é um dos raros festivais de música nacionais a incluir bailado na sua programação...