Saturday, June 03, 2006

BAZAR DAS MONJAS COMEMORA 2º ANIVERSÁRIO COM ARTE

Cós é uma das localidades historicamente mais emblemáticas do concelho de Alcobaça. Pena é que a recuperação do seu precioso Convento feminino esteja a demorar tanto tempo. Todavia, segundo o que já vi daquela recuperação, os resultados começam a mostrar-se muito edificantes em termos de revitalização da antiga graça e da qualidade arquitectónica e artística daquele Convento, lamentando-se apenas que o assunto não se consiga resolver de vez e com resultados práticos no que respeita à secção dos domínios daquele convento que continua a ser incompreensivelmente ocupada por vivências estranhas à sua tradição ocupacional...
Mas nem só do seu Convento vive Cós e a verdade é que ainda ali existe alguém que vai dia a dia lutando pela emancipação da sua vida social e cultural. É o caso da Raquel Romão e do Valdemar Rodrigues, que há dois anos ali inauguraram um espaço em que a vivência hoteleira se alia à vivência cultural. Recordo-me de já lá ter admirado uma excelente exposição fotográfica da Catarina Mateus, curiosamente antiga vizinha daquele estabelecimento, cujo nome, Bazar das Monjas, faz inteira justiça à tradição social e cultural daquela simpática localidade. Uma localidade onde já mesmo assisti a inesquecíveis espectáculos, nomeadamente com artistas e agrupamentos como Gabriela Canavilhas, Ana Ferraz, Friedrich Lips, o Trio Mediterrain, o Cuarteto Casals ou os The Gift...
Pois bem, e não sendo este post um anúncio, mas sim a mais pura realidade, destina-se o mesmo a noticiar aos quatro ventos que o Bazar das Monjas resolveu comemorar o seu segundo aniversário da melhor maneira. Ou seja, inaugurando no próximo sábado, 10 de Junho, às 15 horas, a exposição Desenhos a Lápis de Grafite de Antunes, na qual serão apresentados retratos e caricaturas concebidos pelo artista montense José Ribeiro Antunes durante as duas últimas décadas. É muito fácil chegar ao Bazar das Monjas, que se situa no nº 24 da Rua Professor José dos Santos Teodoro, que é precisamente a rua principal de Cós... Não tem nada que saber e a visita valerá certamente a pena!

Thursday, June 01, 2006

FUNDAÇÃO GULBENKIAN APRESENTOU TEMPORADA DE MÚSICA NOTÁVEL ENTRE OUTUBRO DE 2006 E JUNHO DE 2007

Chegou ontem à minha caixa de correio o sempre muito aguardado livrinho que anuncia os espectáculos da próxima temporada de música promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Abrir e desfolhar o dito livrinho é sempre um prazer, embora nem sempre nele se confirme tudo o que ali aspiramos ver e ouvir. Todavia, após iniciar o acto anteriormente descrito tive imediatamente a motivadora sensação de que este ano a coisa promete mesmo muito mais que nos últimos anos, parecendo que os programadores da Gulbenkian resolveram dar um pontapé na crise que nos últimos anos pareceu assolar as suas temporadas de música. Pois é: para o período entre 4 de Outubro de 2006 e 2 de Junho de 2007 a Fundação Gulbenkian apostou claramente na contratação de grandes vedetas da música culta internacional, começando logo pelo seu concerto inaugural, em que o seu Grande Auditório acolherá um espectáculo da justamente celebrizada meio-soprano Anne Sophie von Otter. Além dela, aquela temporada de música apresentará outros notáveis intérpretes, muitos deles actuando mesmo com a própria Orquestra Gulbenkian, como será o caso de maestros como Gennadi Rozhdestvensky e Jean-Claude Casadesus, intérpretes como a violinista Viktoria Mullova, os pianistas Alfred Brendel e Daniel Barenboim ou a soprano Angela Gheorghiu. Momentos altos da temporada existirão certamente todos os meses, durante a próxima temporada de música da Fundação Gulbenkian, e, quer o seu Ciclo de Piano (que anuncia Evgeni Kissin, Murray Perahia e Maurizio Pollini), o seu Ciclo de Música Antiga (que anuncia a Akademie für Alte Musik Berlin, o Collegium Vocale de Ghent, o Les Arts Florissants e os English Baroque Solists), o seu Ciclo de Música Contemporânea (que anuncia o Ensemble Recherche e o Remix Ensemble) ou o seu Ciclo Grandes Orquestras Mundiais (que anuncia a Orquestra do Século XVIII, a Philharmonia Orchestra, a SWR Sinfonieorchester Baden- Baden und Freiburg e a Orquestra Sinfónica de Londres) prenunciam não só fabulosos espectáculos como uma autêntica depredação das economias de muito boa gente... Vamos então estar atentos e o mais presentes possível na temporada de música Gulbenkian, num ano em que além de tudo o que anteriormente referi até vão passar raridades como a música de La Monte Young, um dos patriarcas do minimalismo musical! Para os alcobacenses deverão merecer especial atenção as várias actuações do Remix Ensemble nesta temporada da Gulbenkian(um dos solistas daquele agrupamentp é o percussionista alcobacense Manue Campos), além de curiosidades com a participação do Trio Mediterrain (que participou no XIII Cistermúsica) e da inclusão naquela temporada da ópera de marionetas As Variedades de Proteu (também apresentada no XIII Cistermúsica), que será apresentada em versão de concerto, no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian, pelo ensemble francês Les Caractères, em 4 e 5 de Fevereiro de 2007. Será bom então começar já a juntar uns trocos com a finalidade de conseguir ao maior número de concertos possível nesta temporada de música Gulbenkian, embora haja um que se arrisca certamente a ficar histórico e a ser o concerto do ano em Portugal: vai ser apresentado na noite de sábado, 3 de Março de 2007, no Garnde Auditório da Fundação Gulbenkian, e em palco estarão nem mais nem menos o agrupamento TrondheimSolistene e a violinista e directora musical Anne- Sophie Mutter... Irra! Que esta vai ser mesmo uma temporada de música do caraças!

Tuesday, May 30, 2006

EXPLIQUEM-ME, COMO SE EU FOSSE UMA CRIANÇA DE QUATRO ANOS....

Assisti ontem, no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, ao concerto inaugural da 24ª edição do Festival Música em Leiria. Em palco esteve o espectacular Lakatos Ensemble, agrupamento húngaro dirigido pelo fabuloso violinista Roby Lakatos, que passeou a sua indiscutível classe por aquele palco, num espectáculo estruturado em torno de uma fascinante miscigenação entre a música húngara e o jazz clássico (se é que assim lhe posso chamar...). Não faltaram também temas de autoria de Roby Lakatos, Michel Legrand e Charles Trenet, entre outros, tendo o concerto culminado com dois irresistíveis encores encorpados em torno do tradicional Olhos Negros e da portuguesíssima Coimbra de Raúl Ferrão!
Todavia, o que hoje aqui me traz é uma comparação entre o que se vê (e o que não se vê) nas plateias dos espectáculos dos dois festivais de música mais importantes desta região. A saber: o Música em Leiria, organizado pelo Orfeão de Leiria, e o Cistermúsica, organizado pela Academia de Música de Alcobaça. A questão que aqui trago até é aparentemente simples, ou melhor escrevendo, não tem quase nada que saber ou entender...
Então aqui vai o problema: sendo os dois festivais organizados por entidades que disponibilizam e gerem escolas de música, porque é que nos espectáculos do Música Em Leiria se vêm sempre bastantes alunos e professores do Orfeão de Leiria e no Cistermúsica raramente se vêm alunos ou professores da Academia de Música de Alcobaça. Qual é a diferença? Se alguém souber, que me explique, como se eu fosse uma criança de quatro anos...

Monday, May 29, 2006

NOTAS SOLTAS, COM DEMASIADO ECO, SOBRE O QUARTO ESPECTÁCULO DO CISTERMÚSICA 2006

Este fim-de-semana não foi realmente um dos melhores na história recente do Festival de Música de Alcobaça. Depois do concerto assim assim e da falta de público no concerto de música de câmara do passado sábado, a coisa piorou ainda mais na tarde de domingo, 28 de Maio, data para a qual foi marcada uma conferência/concerto sobre as sonatas de Fernando Lopes-Graça, versando muito essencialmente a sua Sonata nº 2. Em palco, ou melhor dizendo, lançada às feras, esteve a diligente e simpática Patrícia Bastos, num espectáculo algo fraquinho em termos da retumbância programática e artística esperada num festival como o Cistermúsica. Devo aqui esclarecer que a pianista e musicóloga não teve quaisquer culpas no cartório, sendo muito curioso que nem o director artístico nem o director executivo do Festival tivessem comparecido numa Sala do Capítulo do Mosteiro de Alcobaça que mais uma vez se revelou profundamente desadequada para um espectáculo daquele género, neste caso com a agravante daquela sonata de Lopes-Graça ser muito forte nos seus graves, o que, numa sala com a irritante reverberação daquela acabou por motivar uma profunda dor de cabeça nalguns dos espectadores presentes. E aqui a porca voltou a torcer o rabo, tendo nesta tarde sucedido aos 52 espectadores da noite anterior apenas cerca de 30, num recital que até era à borla.
Confirmaram-se as minhas suspeitas de sábado à noite, e deverei aqui escrever a minha triste conclusão de que o Cistermúsica está nalguns casos a perder espectadores e muito do seu público habitual. Neste caso especial, penso que essa ausência de público se terá devido à própria indefinição do espectáculo em causa, que nem se anunciou como carne nem como peixe, ou seja, nem como concerto nem como conferência, indefinição cujas principais vítimas terão sido o público e a própria Patrícia Bastos, que até cumpriu o seu papel muito a contento, apesar das enormes contrariedades a que foi sujeita.
Sendo assim, depois de um fim-de-semana em que o sonho voltou a acolher o Cistermúsica, graças ao notável Cuarteto Casals, seguiu-se este autêntico fim-de-semana de pesadelo em que até o público fugiu a sete pés do Festival de Música de Alcobaça! Espera-se que o sonho regresse em força na noite do próximo sábado, graças ao mágico Artur Pizarro e à música de Carlos Tavares de Andrade, Ravel, Cesar Franck e Liszt, mas a verdade é que se a quebra na qualidade artística e na afluência de público se continuar a verificar terá mesmo chegado a hora de rever e reorganizar a estruturação do Cistermúsica, antes que o mesmo seja ferido de morte...
Cá por mim, espero recuperar da dor de cabeça que a reverberação da Sala do Capítulo me causou até ao próximo sábado...

Sunday, May 28, 2006

MAIS UMAS NOTINHAS SOLTAS SOBRE O CISTERMÚSICA 2006

O terceiro concerto do XIV Cistermúsica não levou, ontem à noite, mais de cinquenta espectadores ao grande auditório do Cine-Teatro de Alcobaça, facto que me suscita algumas dúvidas no que respeita ao facto de o Festival de Música de Alcobaça ter ao longo dos seus quinze anos de existência conseguido, ou não, ganhar e manter um público dedicado. Parece-me que não, e ainda ontem mirei cirurgicamente a plateia do mais importante edifício cultural de Alcobaça, chegando facilmente à desoladora conclusão de que aquilo a que poderemos chamar de público fiel do Cistermúsica não chega a atingir as 20 pessoas. Principalmente a partir da altura em que, muito adequadamente, o festival começou a cobrar a entrada nos seus concertos...
Em palco, naquela noite de sábado 27 de Maio, estiveram a soprano norte-americana Elizabeth Keusch e o plurinacional Ensemble Contrapunctus. O espectáculo começou com a interpretação do Quarteto com Flauta em Ré Menor K. 285, de Mozart, um dos compositores homenageados nesta edição do Cistermúsica. Desta vez o notável compositor teve muito mais sorte que no concerto inaugural do festival, tendo a sua música sido muito melhor tratada e apresentada que na semana anterior, embora o quatro instrumentistas em palco tivessem pura e simplesmente cumprido o seu papel, sem grandes devaneios, o que até nem foi mau, embora pudesse ter sido muito melhor. Seguiu-se a interpretação de Sete Poesias de Blok para soprano e trio com piano, op. 127, de Chostakovich, confirmando o que na semana anterior aqui escrevi, ou seja, que até à data aquele tem sido o compositor cuja música tem sido mais convincentemente interpretada nesta edição do Cistermúsica, embora Elizabeth Keusch não tivesse demonstrado grandes rasgos interpretativos, apesar da sua boa dicção. A primeira parte do espectáculo terminou, deixando no ar a sensação de que, afinal, a escassa presença de público até tinha a sua justificação...
A segunda parte do espectáculo começou com a interessante Märchenerzählungen para clarinete, violeta e piano, op. 132, de Robert Schumann, cuja interpretação, certinha e eficiente, mas sem nada de transcendental, confirmou os meus temores de que a enorme qualidade que o festival apresentara no Convento de Cós, no domingo anterior, só muito dificilmente se voltaria nele a repetir este ano, o que para mim significa, muito claramente, que este será o ano com qualidade artística menos representativa desde que o Cistermúsica entrou no século XXI. Para o final do concerto aguardava-se o marcante e incontornável Pierrot Lunaire, de Arnold Scömberg, que, curiosamente, era a interpretação mais ansiada da noite para a maioria do público ali presente, facto estranho numa noite em que ess seria a única composição interpretada cujo compositor não integrava o epicentro da concepção temática da edição deste ano do Festival de Música de Alcobaça... E foi aí que a coisa deu um bocadinho mais para o torto, dado que a interpretação do Pierrt Lunaire pelo Ensemble Contrapunctus e pela soprano Elizabeth Keusch foi mesmo a maior desilusão, não só daquela noite como de toda a programação até agora apresentada nesta edição do Cistermúsica 2006. Sabe-se quão difícil é interpretar vocalmente aquela obra musical, não só pela necessidade de interpretar mesmo muito bem o chamado sprechgesang (canto falado) nele utilizado por Schönberg como também pela efectiva expressividade poética daquela produção musical, em que as vertentes musical e teatral se coadunam de um modo mesmo muito raro. Foi aí que Elizabeth Keusch não esteve muito bem, tendo a sua interpretação sido muito mais sprech que gesang, ou seja, muito mais declamada que cantada, nela tendo faltado também muito no aspecto teatral e expressivo, análise extensiva aos instrumentistas do Ensemble Contrapunctus e ao maestro Cesário Costa, que uma semana depois de não ter dado o seu melhor com a Orquestra do Norte, voltou agora a fazê-lo numa pouco empenhada interpretação de um Pierrot Lunaire cuja interpretação exige mesmo muito mais do que o aqui ali vimos e ouvimos! E aqui coloca-se mesmo um questão de princípio, sendo lógico perguntar se valerá sempre a pena contratar artistas estrangeiros para alguns espectáculos deste género de eventos? A questão colocou-se-me agora, dado que precisamente há dez anos, em Julho de 1996, assisti a uma interpretação daquela obra de Scxhönberg numa edição do Festival Música em Leiria, em que a soprano portuguesa Ana Ester Neves esteve mesmo muito melhor em palco do que agora fez a sua colega norte-americana no Cistermúsica 2006. Num ano em que consta que a dotação orçamental do Cistermúsica foi mesmo muito rabiscadinha, será caso para perguntar se a nossa Ana cobrará mais que a Elizabeth deles, ou se não estaria agora disponível para actuar em Alcobaça...
Resta-me agora esperar que o barco navegue por melhor águas, hoje ao fim da tarde, no Mosteiro de Alcobaça, com a conferência/concerto de Patrícia Lopes Bastos sobre as Sonatas e Sonatinas de Fernando Lopes-Graça... Curiosamente, as entradas são livres, pelo que aquele espectáculo servirá também para analisar mais profundamente as razões que muitas vezes têm afastado o público do Festival de Música de Alcobaça. Dados como as entradas a pagar, a qualidade dos artistas, a música apresentada ou até mesmo a inveja e a maledicência pura continuam na mesa!