Tuesday, February 20, 2007

EDITORIAL CAMINHO LANÇA NOVO LIVRO DE ONOFRE VARELA: O PETER PAN NÃO EXISTE- REFLEXÕES DE UM ATEU

A Editorial Caminho lança esta semana um novo e muito interessante livro: O Peter Pan Não Existe- Reflexões de Um Ateu, de Onofre Varela. A sua sessão de lançamento terá lugar no próximo dia 22 de Fevereiro, quinta-feira, pelas 18.30 Horas, na sede da Editorial Caminho - Auditório Vitor Branco (Av. Almirante Gago Coutinho, 121 - Lisboa). A apresentação do livro será feita por Ricardo Gaio Alves.
A Editorial Caminho adianta sobre este livro que:
Na nossa sociedade esmagadoramente religiosa e maioritariamente católica, o Pensamento Ateu existe, anuncia-se, actua e expande-se, como transgressor do correctamente estabelecido pelos poderes eclesiástico e político-económico!
O autor navegou pelo pensamento religioso em criança, interrogou-se na adolescência e cimentou o seu ateísmo na vivência diária de adulto, observando, lendo e reflectindo. Interessado no factor civilizacional designado Deus, fez do tema a ocupação do seu pensamento nos últimos 30 anos, durante os quais investigou, leu textos religiosos e filosóficos, e opiniões de historiadores e de cientistas, esteve atento às posições e aos discursos da Igreja, e, em 1997, meteu mãos à tarefa de escrever as suas reflexões, o que lhe ocupou os seus tempos livres dos cinco anos seguintes.
O Peter Pan Não Existe é um livro crítico da sociedade, e é produto de uma vida atenta ao fenómeno religioso, e afirma o evidente: Deus só existe na cabeça de quem crê!
Não resistimos a transcrever nesta postagem um excerto desse livro O Peter Pan Não Existe- Reflexões de Um Ateu, de Onofre Varela, reproduzido de entre as suas páginas 35 a 38: "Relativamente a Deus, comecemos por aqui: Muito provavelmente, o ser humano — quando ainda em incipiente estágio evolutivo — imaginou que haveria um princípio fundador e transformador das causas e das coisas que observava... A sua imaginação acabava de produzir um conceito! E para que tal conceito pudesse ser entendido pelo outro carecia de um rótulo ou de uma etiqueta. Nesse rótulo, escreveu-se: Deus. Por esse facto, Deus é um nome (como um código), e não mais do que isso. (Ao contrário do fígado, que é um nome mas também um órgão por ele identificado, que tem forma, que existe dentro dos animais e que pode ser retirado, visto, apalpado, estudado e apreendido por todos os sentidos.)
Deus não passa do nome da coisa criada pelo cérebro. É, portanto, uma criação abstracta do Homem. Um conceito! Como ideia que é não tem forma reconhecível (só a tem se os homens lha quiserem atribuir, e cada um atribuir-lhe-á aquela que imaginar mais próxima daquilo que pensa poder ser), e é identificada por aquele nome encontrado para designar a ideia: Deus. Um nome pequeno, de fácil dicção, mas, simplesmente, um nome... Um simples termo escolhido para que, com ele, você possa designar algo que desconhece, e que por isso mesmo teme e adora concomitantemente, pois o temor e a adoração são atributos do desconhecido. A definição de Deus não é mais do que a definição de uma ideia de Deus... e nada assegura nem garante que tal ideia possa existir, de facto e realmente, para além de si própria!
A percepção de Deus pelos sentidos, pelo apercebimento do mundo e das coisas, pela observação da Natureza, remetendo tudo quanto é observado e sentido para a conclusão da existência de um enigmático autor, não passa de um acto de fé, e, como tal, desconectado da realidade. É como você esperar a todo o momento, que um pinheiro se desenraíze e corra, consigo, a maratona! Deus é uma ideia que para mais nada serve senão para ser, exclusivamente, usada no pensamento de quem crê. E essa ideia precisa de um nome para poder ser referida, citada, transmitida e — o que é importante — caracterizada! O entendimento que você tem do termo Deus caracteriza aquilo que você crê ser uma Entidade Superior; é o bilhete de identidade desse deus, que é, exclusivamente, seu, pois embora o conceito Deus tenha um entendimento universal, estereotipado pela função cerebral, ele acaba sendo personalizado por cada crente!
Se em vez da palavra Deus para referir o seu desconhecimento e o objecto da sua adoração, se se tivesse adoptado qualquer outro termo... por exemplo: Birobé; você, em vez de dar graças a Deus, dava graças a Birobé!
Birobé seria o cerne de todas as coisas. Birobé passaria a ser o seu criador e o dono do seu destino. Seria tudo quanto você desconhece e o guardião da fonte de todos os seus desejos. Birobé é, a partir de agora, o dono da sua alma. E só por bondade de Birobé você acorda todas as manhãs com vontade de enfrentar o dia que tem à sua frente para viver, e vive-o graças a Birobé! Birobé é a explicação para tudo quanto você não conhece e quer ver explicado. Mesmo que aquilo que você desconhece seja sobejamente conhecido por todos, menos por si, é Birobé que preenche esse enorme vazio, e, continuando você a desconhecer a verdadeira essência da coisa, você crê conhecê-la porque você «sabe» que a coisa... é Birobé!
Graças a Birobé você é «conhecedor», porque conhece a Birobé! Quando procura uma explicação, você não consulta uma enciclopédia; recorre a Birobé. Birobé tudo sabe, é grande e o seu poder é indesmentível. Com Birobé, tudo; sem Birobé, nada. Birobé é aquele que você designa com letra maiúscula, que crê Omnipotente e Omnipresente, que tudo vê e que tudo domina. Birobé é O princípio, O meio e O fim. É Ele quem lhe ilumina o caminho, e você deve-Lhe incondicional adoração!

Acha ridículo dar graças a Birobé?
Tem toda a razão.
É tão ridículo como dar graças a Deus!...

A transmissão de uma ideia é melhor ou pior entendida, segundo a capacidade de transmissão de um e a capacidade de entendimento do outro. Esta noção pode ser ilustrada com a história daquele cego a quem falaram de leite, e ele pergunta:
— Como é o leite?
— É um líquido branco — responderam-lhe.
— O que é branco?
— O branco é a cor do cisne.
— Ah!... E o que é cisne?
— É uma ave de pescoço elegante e curvo.
— Curvo?!... O que é curvo?
O interlocutor colocou a mão em posição curva relativamente ao braço e deixou que o cego a apalpasse para perceber a noção de curva.
— Ah!... — disse o cego percebendo a forma pelo tacto. — Agora já sei como é o leite!...


É do mesmo modo que os cegos religiosos conhecem Deus!
E quem perfilha cegamente uma religião, fá-lo, em regra, como afirmação da sua bondade. Ora, se eu preciso de recorrer a uma divindade para me afirmar justo, bondoso e respeitador, o mais certo é o meu «bom comportamento» ser uma refinada mentira. É o mesmo que recorrer a uma muleta para afirmar o meu andar escorreito.
Eu só preciso da muleta se for manco!..."
É claro que deve ser mesmo um livro muito interessante!


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