Tuesday, September 25, 2007

ARTISTA DE REPRESENTAÇÃO VISUAL ALCOBACENSE MARCO PIRES APRESENTA DISPLACEMENT MAPS E REBATIMENTO, NO PORTO

Este blogue continua a ser dedicado fã da criativa arte do artista de representação visual alcobacense Marco Pires. Na noite da próxima sexta-feira, às 22 horas, vai ser inaugurada no Porto, na Galeria Pedro Oliveira (Calçada de Monchique, 3) a sua nova exposição: Displacement Maps, que ali estará aberta ao público até 27 de Outubro. Aconselhando a todos os nossos visitante e amigos uma visita àquela exposição de um dos mais representativos artistas de representação visual alcobacenses da actualidade, transcrevemos seguidamente o significativo texto que Susana Gaudêncio escreveu sobre essa exposição de Marco Pires: "A exposição Displacement Maps articula várias linhas de acção e diversos meios de expressão que se agregam na investigação contínua que Marco Pires tem vindo a efectuar sobre a cartografia, específicamente sobre o conceito de mapa e a sua relação interdisciplinar com as noções de representação, em constante mutação, que definem a prática da arte visual contemporânea.
A Marco Pires interessa a analogia entre representações cartográficas e pintura, assim como a identificação do erro e da ficção, na representação e interpretação da paisagem, como são definidos por Mark Monmonier no livro “How to lie with maps”, e que preconiza a impossibilidade de chegar á realidade em si. É a partir desta impossibilidade que se torna exequível o processo de mediação artística de Marco Pires.
As suas obras nascem de uma actividade processual de distanciamento que obedece a várias etapas; investigação; selecção de imagens impressas ou digitais cartográficas, nomeadamente cidades com tramas complexas e de natureza ortogonal, levantamentos de terreno natural ou ordenamento de território, em seguida e através da sua intervenção por meios que envolvem a fotografia, a projecção, a elaboração de máscaras e modelos tridimensionais, as imagens sofrem um deslocamento, refutação e descontextualização formal das convenções da disciplina (ex: de escala ou perspectiva). O deslocamento é depois acentuado e efectivado sobre novos suportes como o vidro, o alumínio, o papel, a tela ou impressões fotográficas.
É no momento de intervenção final que os factores de erro e falsidade são mimetizados e adquirem uma conotação de critica para com os sistemas de representação da realidade. O imprevisto na sua actuação reflecte-se e decide a estrutura das obras. É através da acumulação de tinta de densidades e tonalidades variáveis, do rebatimento de planos, da justaposição de estruturas, da incerteza das formas, que a política da imagem se afasta da representação objectiva e deixa de ser paisagem ou apenas abstracção para se tornar num local estratégico de concepção e produção artística. Dilatam-se desta forma as possibilidades de interpretação e tradução de um espaço e do visível.
Na leitura das suas obras denota-se um jogo complexo da relação entre as várias tradições artísticas de representação, a crítica de arte e a utilização do terreno ou desenvolvimento urbano do ponto de vista político-económico.
Os seus trabalhos não só referenciam premissas acerca do espaço físico mas reflectem também princípios de um espaço social (espaço social enquanto espaço de produção de cultura, civilização e constituição do meio ambiente). Conceptualmente e tendo em conta o processo formal de reflexão e descontextualização que sofrem as imagens, é visível uma dimensão de critica politica e social nas suas obras, presente em disciplinas degenerativas da Geografia, nomeadamente a Geopolítica ou a Psicogeografia.
A psicogeografia define-se como o estudo das leis precisas e dos efeitos específicos do ambiente geográfico, organizado conscientemente ou não, sobre as emoções e comportamentos dos indivíduos. É relevante introduzir o conceito de “dérive” enunciado por Guy Debord; numa “dérive" uma ou mais pessoas, durante um certo período de tempo, esquecem os motivos habituais para o movimento ou acção, as suas relações, o seu trabalho, as suas actividades de lazer e deixam-se motivar pelas atracções do terreno e encontros inesperados. A premissa fundamental da deriva é a de que os indivíduos devem explorar o ambiente urbano que os rodeia sem preconceitos impostos e de forma criativa afim de compreender mais conscientemente o espaço que habitam e consequentemente a sua existência. Não se recomenda o auxilio de um mapa na deriva por Displacement Maps"
. No sábado, 29 de Setembro, às 16 horas, é também inaugurada no Porto, na Sala Poste-Ite (Edifício Artes em Partes/Rua Miguel Bombarda, 457) , também artisticamente dirigida pela Galeria Pedro Oliveira, uma extensão daquela exposição de Marco Pires, intitulada Rebatimento, que ali continuará exposta até 10 de Novembro. O teor artístico dessa outra exposição de Marco Pires é explicado do seguinte modo pela Galeria Pedro Oliveira: "Na Sala Poste-Ite é apresentado Rebatimento #2, que representa uma extensão da exposição simultânea Displacement Maps na Galeria Pedro Oliveira. Esta peça constrói uma síntese do que são os princípios fundadores dos agentes da relação do espaço e da sua representação. O conceito de rebatimento deriva do chamado sistema de dupla projecção ortogonal, invenção de Gaspard Monge no fim do séc. XVIII, que revolucionaria o pensamento moderno de representação do espaço e de objectos na sua relação tridimensional. Em suma, a projecção perpendicular dos objectos no espaço sobre dois planos ortogonais permite o registo das suas coordenadas, após o que a rotação de um plano sobre o outro, tendo como eixo a linha onde estes se cruzam, permite a transcrição bidimensional de um cenário espacial tridimensional. Analogamente e por aproximação ao conceito de Monge, a peça exibida é construída por 9 planos ortogonalmente dispostos e desenhando um ângulo agudo comum com o plano da parede, simulando um movimento de charneira entre si".
Ora aí está então mais uma coisa interessante para fazer no Porto: fruir estas duas exposições de Marco Pires!

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