Tuesday, February 21, 2006

QUANDO É QUE ALCOBAÇA DEIXARÁ DE TER MAIS OLHOS QUE BARRIGA EM MATÉRIA DE MUSEUS?

Segundo parece, (muit)os portugueses continuam a brincar com a chamada Colecção Berardo. Que, versando essencialmente (toda) a arte contemporânea, tem uma dimensão física e económica aparentemente desmedidas para as vistas curtas de quem muitas vezes nos (des)governa. Devido a um acordo entre o proprietário e a edilidade de Sintra, uma boa parte daquela preciosa colecção de arte tem estado exposta num curioso palacete edificado em 1920, situado naquela vila, na Avenida Heliodoro Salgado. Contudo, a dimensão física daquela colecção obrigou a que outra sua boa parte tivesse de ser deslocada para salas e armazéns do Centro Cultural de Belém, enquanto uma sua outra boa parte vai sendo correntemente exibida em vários museus de Portugal e outros países. Isto para não dizer que, entretanto, o Comendador Berardo continuou a comprar arte um pouco por todo o mundo, o que significa, segundo consta, que já conta com cerca de mais um milhar de obras artísticas par além daquilo que já era publicamente conhecido...
Entretanto, e tendo chegado ao fim o prazo acordado com a edilidade sintrense, Joe Berardo começou a pensar em novo local para instalar e conservar a sua colecção, tentando, acima de tudo, que essa modificação proporcionasse um local mais adequado para a exposição das suas inúmeras e valiosa peças. Isso significou que outros países se interessassem em atrair a Colecção Berardo para o seu território e que o governo português tivesse tentado meter mãos à obra no mesmo sentido... Todavia, essas negociações nem sempre têm decorrido de forma edificante e, segundo parece, o Estado português tem mesmo metido os pés pelas mãos, e vice-versa, o que já começa a irritar um Joe Berardo que tem plena consciência do valor da sua colecção de arte (foi ele que a seleccionou e pagou, não foi?). Entretanto, a pacoviada começou a assentar arraiais nesta questão, e, segundo tem constado, houve outras edilidades que aparentaram começar a interessar-se em atrair aquela colecção para os seus concelhos. Caldas da Rainha e Alcobaça são dois dos casos conhecidos, e o que mais nos interessa é precisamente o último, ainda para mais quando tem sido avançado nalguma imprensa que o Dr Gonçalves Sapinho e os seus pares haviam tido a luminosa ideia de a tentar instalar nas secções ainda desocupadas da Ala Norte do Mosteiro de Alcobaça. E a verdade é que este posicionamento do autarca alcobacense se mostra básica e completamente desadequado e desajustado, não só pela diferença etária e estilística entre a maioria daquelas obras (século XX) e o próprio Mosteiro (século XIII), mas essencialmente pelo importante e essencial facto de nenhuma sala daquele edifício poder proporcionar as condições de espaço, temperatura e humidade necessárias à sua boa conservação e manutenção. E aqui relembro que a Colecção Berardo inclui arte moderna, azulejaria, posters, minerais e esculturas africanas, além de uma imensidão de obras que abrangem a instalação contemporânea e que nada têm a ver com a ambiência de um mosteiro histórica e fisicamente muito mais adequado para outros género de arte (gótico, barroco, etc). É claro que não seria aconselhável e viável que o Mosteiro de Alcobaça pudesse enveredar por tipologias radicalmente tão diferentes da sua e que, por esse mundo fora, nos mostram claros exemplos dessa desadequação do nosso mosteiro: a pintura A Closer Grand Canyon, de David Hockney, exposta no Centre Georges Pompidou, em Paris, tem 3,30 metros de altura e 7,44 de comprimento/ a escultura metálica Snake, de Richard Serra, exposta no Museo Guggenheim, de Bilbao, tem 6,82 metros de altura e 31,65 de comprimento/ o helicóptero Bell-47D1, da Bell Helicopters Inc, exposto no Moma, em New York, tem 3,02 metros de altura e 12,72 de comprimento. Se Joe Berardo optasse por peças desse dimensionamento físico e artístico onde é que elas poderiam caber no nosso Mosteiro?
Pois é. Neste caso, tal como em muitos outros, seria bom que Alcobaça deixasse de ter mais olhos que barriga e, recordando que além do próprio Mosteiro a nossa cidade não tem qualquer museu digno desse nome, em termos de inventariação, conservação e exposição, se voltasse é para o que tem dentro de si (Museu Vieira Natividade, Central Eléctrica da Fiação e Tecidos, Museu da Cidade,etc), tratanto, finalmente, de optar por uma autêntica orientação de nível museológico. Trazer para Alcobaça a Colecção Berardo só seria possível e admissível se se construisse uma infra-estrutura adequada para esse efeito (e neste caso, o modelo nacional poderá ser o Museu de Serralves) e, neste âmbito, parece-me que Alcobaça deverá ter outras prioridades e outras necessidades, aqui se recordando a urgência que a nossa cidade terá em alterar radicalmente o espaço actualmente ocupado pelo Mercoalcobaça, deitando abaixo o que agora lá está conbstruido e substituindo-o por um eficiente e adequado Pavilhão Multiusos!

11 comments:

Alcobacense said...

A ideia do Dr. Sapinho não é má, pois Alcobaça há muito que procura soluções para fixar os turistas na terra. Não será esta uma boa opção? _ Sempre cá ficariam mais algum tempo que os obrigaria certamente a pernoitar...
Quanto ao facto de a colecção ser exposta no Mosteiro, também concordo que não é o local ideal, dada a diferença de estilos. Ainda assim discordo quando diz que as salas do mosteiro não têm condições. Com muito pouca tecnologia teríamos salas com boas capacidades para acolher obras do género. O Louvre se visse as suas salas despidas e abandonadas também seria um ambiente frio e húmido...
Uma nova infra-estrutura custa realmente muito dinheiro e aí concordo que Alcobaça tem outras prioridades. E se desafiássemos os privados a investir na ideia? A investirem na sua cidade?
No fundo gostava muito de ver o mosteiro parcialmente ocupado com um bom museu, mas algo integrado no espaço e relacionado com a sua história.

José Alberto Vasco said...

Não posso concordar com o meu amigo Alcobacense. Para mim, essa ideia do Dr Sapinho nem é boa nem é má, simplesmente não tem qualquer cabimento. E ainda concordo menos consigo quando sublinha que "com muito pouca tecnologia teríamos salas com boas capacidades para acolher obras do género". Caro Alcobacenses, estamos a falar de arte contemporânea, grande parte da qual exige mesmo alta tecnologia, nomeadamente no caso das instalações. Por exemplo, há instalações do sul-coreano Nam June Paik que incluem mais de 100 televisores a trabalhar, via satélite, em simultâneo. Isto para não falar de algumas complexas obras artísticas do Gary Hill ou do Tony Ousler... É complicado e a verdade nua e crua é que esse género de arte, além de não se coadunar com a ambiência arquitectónica do nosso mosteiro também não se coaduna com a impossibilidade de nele instalar a alta tecnologia para esse efeito estritamente necessária. E já agora, lembro-lhe que em Alcobaça a luz eléctrica vai-se quase sempre abaixo sob os efeitos de qualquer trovoadazita ou de qualquer chuvada mais forte... E já que fala no Louvre, fala em Paris, e esse é essa bela cidade simboliza o caso claríssimo em que, citando os seus 3 principais museus, todos eles exibem arte adequada à sua estruturação arquitectónica e às suas infra-estruturas logísticas... O clássico Louvre apresenta arte antiga oriental, arte antiga islâmica, arte antiga egípcia, arte clássica grega, etrusca e romana e pintura clássica italiana, do norte da Europa e francesa, além de escultura clássica grega, desenho e artes decorativas clássicas e artes gráficas do mesmo período... O moderno Museu d'Orsay apresenta pintura, escultura, caricatura, artes decorativas, fotografia e mobiliário de autores modernistas, ou seja entre o final do Século XIX e a primeira metade do Século XX... O contemporâneo Centre Georges Pompidou exibe exclusivamente arte contemporânea (a partir da segunda metade do Século XX), sendo de entre aqueles o que poderá ter mesmo a ver com a essência da Colecção Berardo, o que não será claramente o caso do Mosteiro de Alcobaça...
E veja bem , amigo alcobacense, que o Mosteiro de Alcobaça até está legal e presentemente ocupado "com um bom museu", que é mesmo o do próprio mosteiro. E aí é que eu gostaria que o Dr Sapinho e os seus pares fossem um bocadinho mais realistas, dado que nesse museu falta mesmo muito do conteúdo que por direito lhe pertence e que lá deveria estar, mas não está... E é aí que a porca torce o rabo, caro Alcobacense, dado que se torna muito mais fácil apregoar propostas irrealistas, assim se entretendo o público, quando o que seria mais lógico era que o nosso Presidente da Câmara, na companhia dos seus vereadores e de outras forças vivas locais, como é o caso do actual Director do Mosteiro e de entidades como a Adepa, associação cujos estatutos, logo no 1º artigo, prometem fazer tudo o que seja possível pela instalação do Museu de Alcobaça... Pois é, caro Alcobacense, infelizmente, nestas coisas é muito fácil disparar para o ar do que trabalhar verdadeiramente pela concretização das coisas... Não concorda?

VR said...

Antes de qq juízo devemos perguntar: O que quer Berardo? Se é um grande coleccionador de obrasde art econtemporânea, todos sabemos. Que é um investidor privado nesse tipo de obras de arte, também, pois não consta que lhas tenham oferecido, que as tenha roubado, ou que sejam obras falsificadas. Assim sendo, Berardo deseja que o Estado português lhe arramje um lugar "adequado" e em "condições" para expor as suas peças. Apenas isto.Cabe perguntar: sendo Berardo um investidor privado, que se diz gastar anualmente milhões de euros em obras de arte, porque será que não consegue construir (ou arranjar quem lhe construa)um espaço digno para guardar as suas obras? A resposta é: porque isso lhe custaria uma pipa de massa e depois teria que pagar toda a vida a sua manutenção, além de ter de ficar com a responsabilidade de ter de arranjar visitantes para a cobertura das despesas. Berardo não é certamente parvo. E o Estado, porque lhe poderá interessar a colacção do senhor? A resposta é: porque assim se poderá fazer passar por protector da cultura e nomear mais alguns boys para a administração do negócio, pagos pelo povo, esse sim o único parvo no meio destas "negociações".

As condições que Joe Berardo impôs à autarquia lisboeta e ao governo da Républica para a instalação da sua colecção em terras lusas foram estas:

1ª - Um edifício condigno: Pavilhão de Portugal na Expo.
2ª - Um apoio directo e anual ao museu, para pagar as despesas correntes, um conselho de administração, especialistas, direcção artistica, programadores, etc.
3ª - Orçamento aprovado pelo parlamento.
4ª - Orçamento para a circulação de exposições.
5º - Orçamento gerido pela equipa de Joe Berardo, ou seja, ele mesmo.
6º - Verbas do Casino de Lisboa

E que oferece Joe Berardo em contrapartida?

Um contrato a 10 ou 15 anos, "que obriga a minha família a não vender as obras sem primeiro dar às entidades públicas envolvidas a opção de compra".

Anteriormente interrogado pela jornalista Alexandra Carita sobre se pretendia criar uma fundação, eis a resposta: "Não. Mas quero que o Estado garanta um apoio directo e anual ao museu, para que possamos trabalhar com o dinamismo e possibilitar a circulação de exposições".

Ou seja, todas as despesas, brutais, da montagem e manutenção da estrutura para expôr e rentabilizar a colecção Berardo ficam por conta do Estado, ou seja, os nossos impostos, enquanto que relativamente à propriedade do que realmente interessa, a colecção, Berardo afirma categóricamente que não pretende fazer uma fundação, mas, generosamente, oferece a opção de compra de cada vez que resolver vender qualquer peça da colecção !

Mas não é tudo. Durante o prazo que sugere para a duração do contrato, 10 ou 15 anos, Berardo quer ter total liberdade de actuação, ou seja, o Estado paga e ele e a sua equipa administram.

E assim, a troco de promover criadores mais ou menos emergentes no panorama das artes, através do Seu Museu (mas paga pelos nossos impostos) Berardo fica em condições de comprar novas peças em condições excepcionais de preços, fazer a promoção no mercado das artes dessas mesmas peças através do Seu Museu (mas pago pelos nossos impostos) e obter novas e substanciais mais valias à custa dos impostos de todos nos.

Pensando bem, Joe Berardo até é capaz de ter razão.

Ao verificar a situação do "Chez Lapa ao Chiado, vulgo Museu do Chiado", ou do Museu do Design no CCB, qual a razão para ele também não ter o seu Museu, pago por todos nós, só que desta vez de forma mais aberta e transparente ?

De muita coisa se pode eventualmente acusar Joa Berardo, não sabemos, mas de falta de transparência é que não. Está lá tudo na entrevista. Sem rodeios.

Em Alcobaça, meu caro José Alberto Vasco, talvez haja quem esteja interessado neste negócio. Eu não estou. Já pago impostos de mais. E derrama máxima.

Alcobacense said...

Caro JAV, não me interprete mal. Concordo consigo que o Mosteiro não pode apresentar peças deste estilo. Apenas referi que gostaria de ver o Mosteiro como museu mas centrado em algo relacionado com a sua história.
Quanto ao ter referido que o Mosteiro seria facilamente adaptável, estava-me a referir em termos de ambiente. Tecnologia para controlar a humidade, temperatura e luz é fácil de adquirir. Em relação à vigilância, lá está, não penso em ter aqui um museu com peças de valor incalculável. Sitemas "normais" de vigilância não são hoje dispendiosos. Para o que queremos para o Mosteiro não é necessário grandes investimentos... Creio que é impensável termos um Louvre ou outro museu do género em Alcobaça.
Conheço bastante bem os museus de Paris e o seu "recheio". Vivi lá uns bons meses...
Também me parece que esta vontade dos nossos dirigentes locais tb é um pouco utópica. Certamente que não reflectiram sobre ela e serviu apenas de "show-off".

Concordo tb com o VR e com todo o jogo em volta deste tema. No entanto é necessário referir que os museus nunca serã rentáveis nem mesmo auto-sustentáveis. Terá de existir sempre suporte pelas mãos do estado. Tb não poderemos ser radicais ao ponto de fechar todos os museus por essa razão...
Enfim, acho que é matéria para um outro grande debate.

José Alberto Vasco said...

Caro Valdemar, essencialmente até estou de acordo com grande parte do que aqui escreveu. Todavia, penso que esta questão deve ser discutida e negociada, de boa fé, entre as partes interessadas. E aproveito para aqui chamar a atenção para um caso idêntico, passado em Espanha, respeitante à também importante colecção de arte da família Thyssem-Bornemisa. A instalação em Madrid das 800 peças dessa colecção foi negociada, no início da década de 1990, entre o estado espanhol e aquela família, tendo acabado por se chegar a um acordo que proporcionou essa sua instalação no Palacio Villahermosa, situado no Paseo del Prado, em 1992. O sucesso dessa instalação, que se reflectiu num aumento de deslocação de turistas nacionais e estrangeiros à capital espanhola, conduziu as duas partes a novas negociações, por iniciativa do governo espanhol, que acabou por adquiri-la, ainda em 1993. É claro, caro Valdemar, que esta questão da Colecção Berardo é uma questão entre o estado português e o próprio Joe Berardo e que Alcobaça e o seu Mosteiro não são para ela tidos nem achados. Volto a sublinhar que, por estes lados, seria muito mais importante apontar todas as baterias para o Museu de Cister ou o Museu Vieira Natividade, posicionamento que, infelizmente, não vejo ser tomado pelos nossos edis... Concorda?

José Alberto Vasco said...

Caro Alcobacense, eu não o interpretei mal. O que eu penso, tal como escreveu, é que, em casos desta tarimba, os nossos edis devem ser mais realistas e menos utópicos, deixando essas atitudes de show-off para os períodos de campanha eleitoral... Neste âmbito, continuo a defender que o que Alcobaça precisa e não tem, é de um museu personalizado (ou vários) que tenha efectivamente a ver com a sua História, o seu presente e o seu futuro.E a vida comercial e industrial da cidade ganharia certamente muito com isso, em termos de visitantes que por aqui ficassem mais que uma noite, não acha?

Alcobacense said...

Concordo e muito com os seus dois ultimos posts.

VR said...

Sem dúvida JAV. Alcobaça é conhecida internacionalmente pelo Mosteiro e pela sua fruta. Em Manaus entrei uma vez num café e qual o meu espanto quando vi dependurado na parede um cartaz antigo, com o mosteiro ao fundo, que dizia qq como: Alcobaça, a capital da fruta (havia maçãs, uvas e e pêssegos margutão no retrato. Existem em Alcobaça o Museu do Vinho e aquele da Ala Sul do Mosteiro, se não me engano, que estão praticamente às moscas. Dos que fala, julgo que o mais viável e interessante seria mesmo o museu Joaquim Vieira Natividade, resolvendo deuma vez por todas o problema do espólio do Agrónomo que se vai eternizando. Um museu que deveria ficar ligado à Agricultura, uma riqueza do nosso Concelho a que ninguém prestou a devida atenção depois da adesão à CEE em 86. Sabe JAV, gostaria de ver na nossa terra uma magnífica Universidade Agrícola, ao nível das melhores do mundo, e que atraísse a Alcobaça estudantes de toda a parte. É uma pena ver o estado de abandono da estação nacional de fruticultura Vieira Natividade. Sublinhe-se,nacional (até o ditador Salazar reconheceu isto...). O museu por si só é um risco financeiro grande. Compreendo pois perfeitamente as hesitações em torno da sua criação. Temos de ser capazes de criar as condições para que um museu destes desperte o interesse junto das pessoas. E isso passa, como é natural, por apostar na Agricultura e na imagem da profissão de Agricultor. De outra forma o destino doMuseu Natividade será o abandono. Veja o que aconteceu com o Museu do Vinho, depois da campanha que se fez contra o seu consumo e depois dos subsídios que a UE deu para cortar vinhas )caso dos Montes). Porque é que nos cafés se deixou de vender vinho a copo, e se passou a vender cerveja e refrigerantes que fazem muito mais mal à saúde? Está o meu caro JAV a ver, não é.

Por último, julgo que o Museu de Cister, evocando uma ordem religiosa que, ainda por cima, já não é praticada em Alcobaça poderá cair no mesmo erro. Creio que a ADEPA tinha em mente o Museu dos Coutos de Alcobaça, seria omesmo de que estamos a falar? Bom, em qq caso julgo que os museus devem ser espaços vivos que reflictam aspectos ou memórias colectias altamente valorizadas pelas pessoas. Caso contrárioo seu destino é serem lugares de visita de especialistas e sumidouros de dinheiros públicos. Veja bem, e volto a falar-lhe do Convento de Coz, que aí temos um museu "habitado" e mesmo assim durante 2/3 do ano o número de visitantes que recebe (quando alguém está para abrir a porta) conta-se pelos dedos de uma mão. Para concluir:

1. Primeiro há que valorizar o património "habitado" que temos, e que não é pouco, apostando na ligação às escolas e aos jovens do Concelho como veículos privilegiados para a criação de uma imagem atractiva dessa riqueza. Esta valorização passa naturalmente por algumas obras, por vezes de pouco significado financeiro, tendo em vista criar as infraestruturas necessárias;

2. Depois há que chamar os jovens à sua terra, incentivando-os a criar os seus negócios e estimulando a sua participação no "governo da cidade";

3. Depois há que divulgar e promover aquilo que temos e que é único. Se não dermos valor àquilo que temos, alguém o dará por nós mais cedo ou mais tarde. E entretanto os jovens de Alcobaça ter-se-ão fixado fora da sua terra. Uma terra que perde os seus filhos demorará muito até conseguir criar uma nova identidade. E entretanto envelhece de abandono.

4. Apostar na Agricultura como sector de excelência de Alcobaça. Nas formas de agricultura tradicionais, criando e mantendo um depósito de espécies e variedades características e adaptadas à nosa região;

5. Apostar nos saberes tradicionais, nas compotas, nos doces e licores, nos doces conventuais;

6. Apostar na formação científica e tecnológica de jovens na área da Agricultura/Fruticultura.

7. O museu Vieira Natividade poderia vir em consequência...

Um abraço e continuação de boas lutas!

Alcobacense said...

O VR falou em dois pontos que para mim são fundamentais e poderão ser alvo de novos posts e discussões.

"2. Depois há que chamar os jovens à sua terra, incentivando-os a criar os seus negócios e estimulando a sua participação no 'governo da cidade'"

- O meu caso e de muitos outros que dificilmente voltarão a Alcobaça.

"3. Depois há que divulgar e promover aquilo que temos e que é único. Se não dermos valor àquilo que temos, alguém o dará por nós mais cedo ou mais tarde. E entretanto os jovens de Alcobaça ter-se-ão fixado fora da sua terra. Uma terra que perde os seus filhos demorará muito até conseguir criar uma nova identidade. E entretanto envelhece de abandono. "

- O que ando farto de apregoar. Temos de dar valor ao que temos ao invés de nos andarmos sempre a inferiorizar!

José Alberto Vasco said...

Caro Valdemar e caro Alcobacense: parece que estamos todos de acordo quanto ao facto de Alcobaça ter lutas muito mais importantes a tratar que a de tentar trazer a Colecção Berardo para o nosso Mosteiro, A ideia do Valdemar de cá se criar uma universidade ligada á agricultura e voltar a potenciar essa actividade económica tão essencial e importante neste concelho é uma ideia que também sempre defendi e e que penso ser muito mais fundamentada do que aquelas que por aí têm corrido, da parte da nossa edilidade, e que não trazem nada de novo, quer a nível nacional quer a nível concelhio. E já agora pergunto: o dinheiro que Alcobaça já gastou e continua a gastar mensalmente com o chamado Gabinete da Universidade de Coimbra em Alcobaça tem tido ou virá a ter algum retorno para o nosso concelho? E aí retorno ás palavras do Valdemar, recordando o lamentável estado em que presentemente vegeta a Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, que é mesmo nacional e cujas infraestruturas se estendem até aos concelhos de Setúbal e Évora. Não seria melhor que a nossa Cãmara Municipal também nesse campo se agarrasse a propostas mais viáveis? E já agora recordo também que Alcobaça possui outra infraestrutura importante nessa área, bem junto às instalações da ENFVN, que é o COTHN- Centro Operativo e Tecnológico, também dedicado á investigação agrícola... Quanto ao Museu de Cister, caro Valdemar, esse é o tal museu que deveria ter sido criado no interior do Mosteiro, que foi até criado por decreto, mas que, recentemente, foi, também por decreto, substituído pelo próprio museu que é o Mosteiro de Alcobaça, arrumando assim o assunto de uma só penada (ou pazada), dado que desse modo muita da arte que anteriormente fazia parte do inventário do Mosteiro continuará depositada em Lisboa, em caixotes do IPPAR ou noutros museus... Todavia, a nossa edilidade podia seguir o exemplo de outras e já que parece não ter força para influenciar positivamente o IPPAR, arregaçava as mangas e, embora a outro nível, formava um museu local. Há-os com muito boa qualidade por esse país fora... Por exemplo, em Idanha-a-Nova... E neste caso, caro Valdemar, lá voltamos a falar de algo de bom dedicado à agricultura!

José Alberto Vasco said...

Aproveitei algum tempo livre da minha tarde de hoje para fazer uma lista, não exaustiva, de artistas de representação visual contemporânea representados na Colecção Berardo. Aqui está o resultado:
Carl André, Francis Bacon, Joseph Beuys, Alexander Calder, Marc Chagall, Giorgio de Chirico, Salvador Dali, Jean Dubuffet, Dan Flavin, Gilbert & George, Keith Haring, David Hockney, Jenny Holzer, Donald Judd, Sol Lewitt, Roy Lichtenstein, René Magritte, Kasimir Malevich, Joan Miró, Claes Oldenburg, Gabriel Orozco, Tony Oursler, Nam June Paik, Francis Picabia, Pablo Picasso, Michelangelo Pistoletto, Jackson Pollock, Man Ray, Aleksandr Rodchenko, Julião Sarmento, Richard Serra, Cindy Sherman, Antoni Tàpies, Trsitan Tzara, Vieira da Silva, Wolf Vostell, Andy Wharol e mais uns quantos...
É claro que estes bastam para confirmar o enorme valor artístico e o potencial financeiro daquela colecção, não é? Já calcularam, por exemplo, quanto poderá custar, em termos de seguro, manter uma colecção desta estirpe?