Friday, March 31, 2006

CANTAR A REVOLUÇÃO, COM AS SUAS INOLVIDÁVEIS VIRTUDES E OS SEUS DESNECESSÁRIOS DESVARIOS...

APRILIS
(uma espécie de prelúdio, romanticamente seleccionado pelo autor deste blogue...)

Vinha do tempo da minha infância a fábula em que os homens falavam. Agora as suas vozes estavam sepultadas num silêncio que tinha o nome ciciado de fascismo.
Minha mãe dizia: «Quando fores grande haverá um país...». E o país era onde estava a minha idade. E a minha idade era eu achar-me com toda a força dos ossos no centro da minha liberdade.
Dizendo-me isto, minha mãe pôs-me na voz luminosos objectos para espantar morcegos. Cantei quanto podiam meus pulmões carregar vendavais para sacudir as dormideiras dos tiranos. E onde as horas mordidas pelas algemas foram acre crescimento para a liberdade iluminaram-se as terras do sepulcro e era Abril e a fábula fez-se dia. Numa rubra fraternidade de cravos os homens saudaram a Revolução. Em golfadas de ouro cantei a liberdade.

NATÁLIA CORREIA

No comments: