Thursday, August 31, 2006

O INDEPENDENTE- DESPEDIDA INGLÓRIA DE UM SEMANÁRIO QUE FEZ HISTÓRIA

Pois é. Parecem confirmar-se as piores previsões e foi já anunciado que a edição de amanhã, sexta-feira, 1 de Setembro de 2006, será mesmo a última do semanário O Independente. Embora os últimos tempos de vida daquele semanário tivessem, infelizmente, andado bem longe dos seus tempos áureos, a verdade é que com o encerramento daquele jornal se encerra uma das páginas mais gratificantes da imprensa escrita portuguesa. Numa época em que semanários como o Expresso haviam já entrado numa fase em que o seu anterior arrojo jornalístico havia cedido o seu lugar a alguns quilos de papel sem grandes novidades e lampejos, o surgimento de O Independente foi um dos grandes acontecimentos nacionais daquela década, atraindo não só leitores desiludidos de outros jornais, como eu, mas também uma motivadora série de novos leitores que nunca antes se haviam decidido por um posicionamento desse tipo, como muitos que eu conheço...
A primeira edição de O Independente foi publicada em 20 de Maio de 1988, ao preço de Esc 125$00 cada exemplar, e a sua primeira página, bem á inglesa, chamava totalmente a atenção para um único assunto. O seu título era: HIPERTENSÃO/ Médicos e Ministério Cada Vez Mais Distantes, acompanhado por gigantescas fotografias da Ministra da Saúde Leonor Beleza e do Bastonário da Ordem dos Advogados Machado Macedo, e, em plena época dourada dos governos maioritários de Cavaco Silva, o novo semanário iniciava a sua longa batalha crítica contra os governos dirigidos pelo nosso actual Presidente da República...
Contudo, não era esse fulgor político que então mais atraía os leitores do novo semanário. A contida sabedoria, o desarrojo cultural e o bom humor das figuras que encorpavam a sua ficha técnica acabavam por ser a sua principal fortuna, começando pelo seu Director, Miguel Esteves Cardoso, e continuando pelo seu Director-Adjunto, Paulo Portas, e pelo seu Subdirector, Manuel Falcão, todos eles desempoeirados e corajosos jornalistas, cujo empenhamento garantia que ali estava algo de novo no jornalismo português. Longe de aqui estar a proclamar alguma reza nostálgica ou um sentido requiem, não posso deixar de enumerar alguns dos notáveis colaboradores cujo trabalho jornalístico aquele semanário nos disponibilizava logo na sua primeira edição. Paulo Portas, Leonardo Ferraz de Carvalho, Agustina Bessa-Luis, Vasco Pulido Valente, João Bénard da Costa, António Mega Ferreira, João Miguel Fernandes Jorge e Miguel Esteves Cardoso foram apenas para mim os mais importantes, nomeadamente este último, que naquela primeira ediçáo de O Independente iniciava a sua série de inesquecíveis e vibrantes crónicas genericamente intituladas As Minhas Aventuras na República Portuguesa. Não posso esquecer a importância que os textos daquela gente tiveram para mim e que foi mesmo com o Miguel que aprende a escrever uim texto jornalístico com princípio, meio e fim. De muitos outros jornalistas e colunistas que ao longo de 18 anos por ali passaram não posso esquecer também Manuel Graça Dias, Ruth Rosengarten e Helena Sanches Osório (que também foi directora de O Independente) , nem de uma minha reportagem sobre uma edição da Meia-Maratona da Nazaré, escrita em tons de rosa, que ali assinalaria a minha grande estreia numas lides que entretanto abandonei... De entre muitos factos recordo que em 25 de Maio de 1990, Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas acabariam por trocar de posições na direccção de O Independente, passando este último a ser o seu Director, num período em que o arrojado semanário viveria os melhores anos da sua vida, não só sob a sua direcção mas também sob a de Helena Sanches Osório...
Ainda hoje guardo, devidamente encadernados, os primeiros 260 exemplares de um semanário com o qual mantive durante alguns anos uma autêntica e assolapada paixão. Infelizmente, essa paixão acabaria por dar lugar a uma espécie de ódio, quando sob a direcção de uma outra jornalista, filha de um distinto casal de advogados, nas páginas de O Independente se iniciou uma autênntica cruzada contra outra das grandes paixões da minha vida: o Benfica. Denunciando subliminares ligações pessoais e profissionais a alguns inimigos nortenhos da verdade desportiva... A partir de então deixei, pura e simplesmente de comprar e de ler O Independente, do qual contudo, reservarei sempre a memória física e intelectual dos seus primeiros anos...
Termino referindo uma curiosidade. A de que a primeira vez que nas páginas de O Independente se referiram figuras e acontecimentos sobre Alcobaça e o seu concelho, sucedeu logo na sua segunda edição, em 27 de Maio de 1988, quando na sua décima-terceira página, a rubrica O Caso da Semana ironicamente se referia a um histórico referendo então realizado na Benedita. O subtítulo da notícia era precisamente Benedita Faz Referendo, e nele se escrevia sobre um referendo em que se tentava decidir sobre a existência, ou não, de Feira e Comércio ao Domingo naquela vila, discussão que anteriormente motivara uma autêntica guerra naquela laboriosa localidade. Aquela simpática notícia de O Independente contava ainda com curtas declarações do constitucionalista Gomes Canotilho e do alcobacense Rui Coelho, então Presidente da Cãmara Municipal de Alcobaça!
Concluo então com um longo adeus ao O Independente dos seus melhores anos, prometendo reler durante os próximos dias muitas dessas gloriosas páginas da imprensa portuguesa: adeus e até sempre!

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