Wednesday, August 16, 2006

UM POEMA NEGRO DO POETA MESTIÇO CUBANO NICOLÁS GUILLÉN

BALADA DE SIMÓN CARABALLO

Canta Simón:
- Ai, eu tive uma casita
e uma mulher!
Eu,
negro Simón Caraballo,
nem tenho hoje o que comer.
A mulher morreu de parto,
a casa se hipotecou:
eu,
negro Simón Caraballo,
não toco, nem bebo ou bailo,
nem quase já sei quem sou.
Eu,
negro Simón Caraballo,
hoje durmo num portal;
a almofada é um ladrilho,
minha cama o chão a faz.
A sarna come-me em vida,
reumático me prende o pé;
lua fria toda a noite,
madrugada sem café.
Não sei que faça co'os braços,
mas hei-de encontrar o quê:
eu,
negro Simón Caraballo,
mantenho os punhos cerrados,
mantenho os punhos cerrados,
e preciso de comer!
-Simón, que lá vem o guarda
com seu cavalo de espadas!

(E Simón fica calado)
- Simón, que lá vem o guarda
com suas esporas de lata!
(E Simón fica calado)
- Simón, que lá vem o guarda
com o pau e a pistola,
e com o ódio na cara,
porque já te ouviu cantar
e vem-te bater nos lombos,
cantador de cantos velhos
marido de uma guitarra!...
(E Simón fica calado)

Chega um guarda de bigodes,
sério e grande, grande e sério,
a trote em sua pileca.
- Simón Caraballo, preso!

(Porém Simón não responde
porque Simón está morto)

NICOLÁS GUILLÉN

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