Alguns dos nossos habituais visitantes deverão ainda estar recordados do post que aqui publicámos em 13 de Agosto passado, sob o título Provavelmente a História Não o Absolverá. Referiamo-nos então à Cuba ditatorialmente governada por Fidel Castro há quase cinco décadas, em termos que suscitaram alguma polémica... Voltamos hoje ao mesmo tema, acima de tudo pelo facto de alguns nossos bons amigos terem recentemente visitado aquele país, tendo-nos de lá trazido uma das prendas de viagem que habitualmente mais aprecio: um jornal do país visitado. É evidente que nesse âmbito a escolha é muito reduzida naquele país, pelo que, desta vez, tive de me contentar com um exemplar da edição de 8 de Setembro deste ano do órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista Cubano. Recebi então esse exemplar do Granma, é assim que se chama aquele jornal, edição única naquele país, vendido ao preço de 20 ctvs por exemplar. E aí reside o primeiro problema, dado que esses meus bons amigos me confirmaram que naquele país existem duas moedas oficiais diferentes: o peso convertível (apenas ao alcance dos estrangeiros e de alguns beneficiados locais...) e o peso normal (com o qual tem de se contentar o povo...). É claro que os meus amigos o compraram em peso convertível, o que indicia que mesmo sendo aquele jornal edição única, nem sequer está ao alcance do povo cubano, dado que no próprio mercado existem produtos apenas vendáveis em peso convertível (os de melhor qualidade) e produtos vendidos em peso normal (os tais que se vendem nas lojas do Estado, racionados e através das tais senhas de que há tantos anos ouvimos falar. Quanto ao conteúdo jornalístico do Granma, ele é tão indiscritível e fraco como todos os documentos do género publicados em regimes ditatoriais, apresentando-se como uma pura peça propagandística. Deve ser mesmo muito difícil a um jornalista trabalhar numa redacção como aquela...
Curioso e sintomático foi também o facto de eu ter descoberto na ficha técnica daquele jornal analógico que aquele órgão de informação possui um site na Internet, sob o endereço: www.granma.cubaweb.cu , facto muito significativo num país em que o acesso à Internet é altamente controlado e apenas colocado à disposição de um número muito reduzido de pessoas, ou melhor escrevendo, é apenas disponibilizado aos tais "amigos do poder" que têm também acesso ao chamado peso convertível...
Este último ponto de vista recordou-me a luta há muito tempo desenvolvida por jornalistas cubanos como Guillermo Fariñas pela liberdade de acesso à Internet, luta essa que levou aquele jornalista quase ao falecimento, na prisão, perante a indiferença do governo castrista e sem quaisquer efeitos contrários...
Num país em que pelo menos a sua população mais jovem anseia desesperadamente pela sua libertação do jugo castrista e pelo livre acesso a tudo aquilo de que hoje em dia se pode beneficiar no chamado mundo livre, recordo também que ainda continuam presos e sujeitos a tortura muitos dos jornalistas cubanos detidos em 2003, durante a chamada Primavera Negra. Cuba é mesmo, a par da China e da Eritreia, um dos países em que é menor a liberdade de imprensa e são maiores as perseguições a jornalistas em todo o mundo. A associação Reporters Sans Frontières continua a lutar diariamente pela libertação desses jornalistas e pelo reconhecimento à sua liberdade de trabalho no seu país, tal como muitas outras, um pouco por todo o mundo livre... No site daquela organização, sediada em França, correm neste momento abaixo-assinados pedindo a libertação de três jornalistas cubanos detidos há alguns anos em condições que muito têm deteriorado a sua saúde. Esses três jornalistas cubanos são Fabio Prieto Llorente, Miguel Galván Gutierrez e Ricardo González, que não estão às portas da morte por serem fascistas, agentes da Cia ou amigos de George Bush, mas apenas pelo facto de terem querer sido jornalistas no seu próprio país... O endereço do site da associação Reporters Sans Frontières é: www.rsf.org e a verdade é que uma atenta visita aos seus conteúdos é uma autêntica surpresa!
Já agora e apenas para terminar, os meus amigos que visitaram Cuba também não são fascistas, nem agentes da CIA e muito menos amigos do George Bush, e contaram-me coisas esquisitas como a de não terem conseguido visitar a cidade de Santiago ou o famoso misto entre escola e campo de trabalho infantil que são algumas escolas cubanas, isto para não falar no facto de, segundo eles, a esmagadora maioria dos cubanos faz tudo (mas mesmo tudo) ao seu alcance para conseguir euros ou dólares. -Fidel que se vaya!
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
Uma descrição não muito longe da minha... Cuba é isso mesmo, o país da igualdade desigual, do vazio político e administrativo e da luta pela sobrevivência sem suor. É a tentativa desesperada de extorsão de uns trocados ao turista e a exploração desmesurada em tudo quanto é canto.
Triste é ver como ainda muitos apoiam Fidel...
É muito triste que ali se confirme tudo o que de mau se tem dito e escrito sobre ditaduras daquele género. Esses meus amigos conseguiram até fotografar o interior de uma daquelas lojas em que o Estado cubano vende os chamados produtos essenciais à sua população, através das tais senhas e do tal racionamento, e a verdade é que ao constatar visualmente a pobreza das suas prateleiras e do seu conteúdo, até me deu vontade de chorar... Aquilo está mesmo muito mau e também não vai ser o sucessor designado por Fidel que vai conseguir resolver o problema... Só espero que já não falte muito tempo!
Post a Comment