Sunday, November 25, 2007

25 DE NOVEMBRO DE 1975: O FIM DO SONHO OU O INÍCIO DE UM NOVO PESADELO?

Faz hoje 32 anos que, durante a madrugada, pára-quedistas da Base Escola de Tancos se revoltaram e ocuparam as bases aéreas de Tancos, Monte Real e Montijo, tomando também o comando da 1ª Região Aérea, em Monsanto, onde prenderam o seu comandante, general Pinho Freire. Iniciava-se assim o golpe militar de 25 de Novembro, cujo desencadear acabaria por assinalar o fim do chamado Verão Quente de 1975, que se iniciara em 11 de Março do mesmo ano, em consequência de outro golpe militar. Os revoltosos desse dia haviam também controlado os acessos à auto-estrada do Norte e ao Aerporto da Portela, em Lisboa, junto ao Ralis, tendo também a Escola Prática de Administração Militar ocupado os estúdios da RTP. O clima de golpe militar vivia-se no país há algumas semanas e nessa mesma noite se registara a substituição de Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa, facto que terá despoletado o arranque daquele golpe militar. A esperada reacção a essa tentativa de tomar o poder em Portugal seria potencializada por uma série de militares ligados ao chamado Grupo dos Nove, organizados em torno de Melo Antunes e Vasco Lourenço e comandados a partir de um centro operativo situado na Amadora, dirigido pelo então tenete-coronel Ramalho Eanes. O Regimento de Comandos chefiado por Jaime Neves acabaria por neutralizar, uma a uma, todas as unidades revoltosas, tendo-se mesmo registado três mortos no seu ataque ao Regimento da Polícia Militar, na Ajuda. Dois dias depois, os acontecimentos do 25 de Novembro são logisticamente encerrados, com a prisão de algumas dezenas de militares acusados de tentativa de golpe militar e com a nomeação de Ramalho Eanes como Chefe do Estado Maior do Exército, a título interino. Terminara o chamado Verão Quente de 1975, um período de 260 dias em que os portugueses tinham vivido entre o sonho e o pesadelo...
Os visitantes e amigos deste blogue lembrar-se-ão ainda certamente das postagens que aqui foram publicadas em 30 de Junho, 21 de Julho e 16 de Agosto deste ano, relembrando momentos fulcrais daquele período em Alcobaça. Ainda ontem, se registou na Rádio Cister de Alcobaça uma muito bem sucedida emissão especial do programa Publicamente, realizado e apresentado por Piedade Neto, que foi dedicada àquele período. Os convidados daquela emissão foram José Alberto Vasco, José Costa Pombo, Paulo José Moniz e Rui Baltazar, cujos testemunhos sobre aquela época em Alcobaça foram inquestionavelmente muito interessantes e esclarecedores, embora ainda tivesse ficado muita coisa por esclarecer...
Quanto a mim, José Alberto Vasco, a verdade é que tal como já aqui escrevi, iniciei o Verão Quente de 1975 como activo simpatizante organizado de um movimento trotzquista fundado em Coimbra, em Dezembro de 1973, a LCI, que era àquela época o maior e mais activo movimento de extrema-esquerda em Alcobaça. Curiosamente, muitos anos depois, dois dos seus activistas acabariam por ser Presidentes da Assembleia Municipal de Alcobaça, eleitos em representação do PSD. Tal como escrevei numa das postagens anteriormente referidas, o desenrolar daquele período, o chamado PREC (Processo Revlucionário em Curso), acabou por lentamente desencadear em mim um não menos enriquecedor período de reflexão interna e pessoal, durante o qual fui colocando muitas dúvidas a mim mesmo sobre as fundamentações da minha actividade política... Acabei por abandonar toda a actividade política que havia exercido em termos de organização partidária, enveredando por outro género de actividade, apenas enquadrado na defesa de motivações sociais. Uma dessas, foi, àquela época, a da organização de um movimento que lutava pela implantação do 7º ano (posteriormente 11º) liceal nocturno na Escola Secundária de Alcobaça. Foi essa a mtivação que me fez então deslocar várias vezes a Lisboa, ao Ministério da Educação, juntamente com outros elementos daquele movimento. Infelizmente, uma dessas deslocações acabaria por quase ficar definitivamente marcada pela morte, quando em 15 de Outubro desse ano, eu, o Carlos Sousa, o Vítor Pedrosa e o Duarte Areias nos dirigíamos a uma dessas reuniões no Ministério da Educação em Lisboa. Tivemos então um gravíssimo acidente de viação, na Ota, e ainda hoje parece impossível, ver o estado em que o Morris em que nos deslocávamos ficou e saber que os seus quatro ocupantes dali saíram cm vida, após violent embate contra um potente camião... A última coisa de que me lembro nesse dia foi de termos tido um furo, em Alcoentre, no cruzamento da Ponderosa. Pouco tempo depois ter-se-ia registado o tal violento embate, de que não me recordo, em virtude de um traumatismo craniano então sofrido ter apagado em mim a memória desses terríveis instantes, de que saí também com um braço partido. Vivi então alguns dias entre a vida e a morte, primeiro no Hospital de Vila Franca de Xira e depois no Hospital de Santa Maria. Conheço pelo menos duas pessoas que então telefonaram para esses hospitais e a quem responderam que eu já havia morrido... Felizmente, tanto eu como os meus três empenhados amigos sobrevivemos a esse acidente, embora na minha memória apenas subsistam os dias a partir da segunda quinzena de Novembro, quando regressei a casa dos meus pais, em Alcobaça, já livre das piores consequências físicas daquele acidente, mas ainda em fase de recuperação. Foi assim que o dia 25 de Novembro me apanhou de braço a peito... Recordo-me de que era um dia de chuva, escuro como o são muitos dias de Novembro... Quando saí de casa e cheguei à rua, dirigindo-me ao café do Arco de Cister, fui-me apercebendo, pouco a pouco, de que algo de muito grave se passava nesse dia em Portugal... E eu, vageando por Alcobaça, de braço ao peito, quase sem saber o que fazer ou o que me poderia acontecer... Fui acompanhando, muito apreensivo, o desenrolar dos acontecimentos desse dia... E a verdade é que então me apercebi, algo difusamente, que certamente se chegara ao fim de um sonho e muito provavelmente ao início de um novo pesadelo... Felizmente, acabaria por também me aperceber, mais claramente, de que o futuro de Portugal se começara finalmente a desenvolver a partir desse dia escuro e tão agitado...

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