"Não sei se O Caderno do Algoz rompe ou não com a tradição, nem estou preocupado com isso. Quero apenas exercer a liberdade e autoridade que a escrita me dá. Sem fazer favores, nem obedecer a normas." Sandro William Junqueira é a próxima aposta da Caminho na novíssima literatura portuguesa. O seu primeiro livro, O Caderno do Algoz, está nas livrarias desde o dia 14 de Maio e o seu lançamento em Lisboa decorrerá no dia 19 de Maio (3.ª Feira), pelas 19 horas, na Livraria Ler Devagar-Casa da Máquina, Lx Factory (antigas instalações da Gráfica Mirandela), em Alcântara.
Excerto da obra:"O amputado olhou o céu. Contou um conjunto de estrelas que, sobre o cimo do muro caiado, tremeluziam e repetiu em voz alta os seus nomes: Rubídia, Pálida, Mimosa, Intrometida e Acrux. Deu quatro passos atrás medindo a distância. Respirou fundo e arrancou em direcção ao obstáculo com a máxima velocidade que as suas pernas permitiam. Os seus pés, impulsionados pela força dos músculos, levantaram-no do chão. E por momentos, suspenso no ar invisível, sentiu que voava. Depois do impacto, agarrou-se ofegante ao cimo do muro e, quando a gravidade começava a pesar com a ajuda de todo o corpo impulsionado, acabou por sentar-se. Do alto do muro a vista era ambivalente. De um lado, esperava-o um campo aceso de lajes: Aqui jaz; ali jaz... Um campo de túmulos, fotografias e epitáfios semeados por mensagens de despedida ou saudade e ardentes chamas trémulas.
Enquanto do outro se apresentava a cidade: Fantasmagoricamente iluminada pelas luzes indecisas dos candeeiros, guardada pelos cães vadios e gruas de aço. Onde, dentro de casas e edifícios, supostamente deitados sobre colchões e lençóis pestilentos, os peitos dos homens e mulheres horizontais - cravados de ódios e maledicências - se levantavam e baixavam ao ritmo de inspirações e expirações mais ou menos inconscientes.
Excerto da obra:"O amputado olhou o céu. Contou um conjunto de estrelas que, sobre o cimo do muro caiado, tremeluziam e repetiu em voz alta os seus nomes: Rubídia, Pálida, Mimosa, Intrometida e Acrux. Deu quatro passos atrás medindo a distância. Respirou fundo e arrancou em direcção ao obstáculo com a máxima velocidade que as suas pernas permitiam. Os seus pés, impulsionados pela força dos músculos, levantaram-no do chão. E por momentos, suspenso no ar invisível, sentiu que voava. Depois do impacto, agarrou-se ofegante ao cimo do muro e, quando a gravidade começava a pesar com a ajuda de todo o corpo impulsionado, acabou por sentar-se. Do alto do muro a vista era ambivalente. De um lado, esperava-o um campo aceso de lajes: Aqui jaz; ali jaz... Um campo de túmulos, fotografias e epitáfios semeados por mensagens de despedida ou saudade e ardentes chamas trémulas.
Enquanto do outro se apresentava a cidade: Fantasmagoricamente iluminada pelas luzes indecisas dos candeeiros, guardada pelos cães vadios e gruas de aço. Onde, dentro de casas e edifícios, supostamente deitados sobre colchões e lençóis pestilentos, os peitos dos homens e mulheres horizontais - cravados de ódios e maledicências - se levantavam e baixavam ao ritmo de inspirações e expirações mais ou menos inconscientes.
Eles respiram.
Pensou o amputado.
É isto afinal o mundo."
Acabou por murmurar."
É de ir!
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