Monday, June 05, 2006

NOTAS BASTANTE SOLTAS, EM BOM RITMO, SOBRE O SEXTO ESPECTÁCULO DO CISTERMÚSICA 2006

Em boa hora me desloquei ontem à tarde à Sala do Capítulo do Mosteiro de Alcobaça, para assistir ao sexto espectáculo do XIV Festival de Música de Alcobaça. Sete anos depois de ter actuado pela primeira vez no Cistermúsica, voltou ontem a actuar no festival o cravista e organista João Paulo Janeiro. Em 1977, ele estivera no Cistermúsica dirigindo o Grupo de Música Antiga Flores de Música, num concerto em que foram interpretadas composições de Haendel e Haydn, mas do qual não ficou infelizmente registada qualquer memória crítica... Neste seu (muito) feliz regresso ao Cistermúsica, João Paulo Janeiro dirigiu o nóvel agrupamento vocal de solistas Capela Joanina, num concerto tematicamente delineado em torno de Percursos do Sagrado e do Profano na Música Vocal dos Séculos XVI, XVII e XVIII. Tal como na noite anterior, o público acorreu em maior número que na semana passada, tendo ali fruido um excelente e muito bem cuidado espectáculo, em que além de aquele agrupamento ter confirmado ser um ensemble de boas vozes e boa conjunção entre os seus naipes, teve ainda o especial condão de ter apresentado o seu concerto num ritmo muito adequado, sem grandes perdas de tempo entre os vários temas interpretados, facto nem sempre registado em espectáculos deste género... De entre os vários elementos da Capela Joanina merece aqui uma nota muito especial o tenor Marco Alves dos Santos, que novamente actuou em excelente nível na nossa cidade, um ano depois de no Cistermúsica 2005 nos ter deliciado com um vocal e cenicamente irrepreensível Nereu, no elenco da ópera barroca de marionetas As Variedades de Proteu. Isso mesmo ele ontem demonstrou, a solo, na sua interpretação do moteto O Dulcíssima Maria, de Ludovico da Viadana, no qual a sua voz e o seu canto assentaram que nem uma luva: belíssimo! Mereceram também naquele concerto especial referência e apreciação as interpretações da ensalada La Justa, de Mateo Flecha, The Elder, e do responsório Dixit Dominus, de Francisco António de Almeida, com cuja interpretação terminou um belo concerto, no qual tudo bateu mesmo muito certo, sem especiais delongas e tempos perdidos... Foram mesmo uns minutos muito bem utilizados e apreendidos, deixando no ar um cheirinho do melhor que nos tem dado a História do Cistermúsica. Sem espinhas!

1 comment:

José Alberto Vasco said...

Neste enquadramento de notas bastante soltas acabei por imperdoavelemente me esquecer de evidenciar outro excelente momento artístico deste concerto, ou seja, a belíssima interpretação da soprano Orlanda Velez na expressiva canção seiscentista Flow My Tears, de John Dowland, na qual merece também especial referência o subtil acompanhamento de João Paulo Janeiro, em cravo. Quem lá esteve, sabe sobre o que aqui escrevo...