Wednesday, January 03, 2007

AS AVENTURAS DO COMÉRCIO (DITO) TRADICIONAL NO CENTRO HISTÓRICO DE ALCOBAÇA: UMA ODISSEIA QUE DEVERIA TER O TRÂNSITO AUTOMÓVEL REGULAMENTADO!

Se algum veneziano pensasse abrir uma loja de electrodomésticos na Piazza San Marco, o mínimo que lhe aconteceria era ser considerado louco. O mesmo aconteceria a um holandês que pretendesse abrir uma loja de ferragens na Dam Platz de Amsterdam. Ou a um checo que se lembrasse de abrir uma mercearia na Praça da Cidade Velha de Praga. Aconteceria o mesmo a qualquer administrador bancário que delineasse a abertura de um estabelecimento bancário em qualquer desses locais. Ou a um vereador camarário que tivesse a ideia de autorizar o trânsito automóvel (não regulamentado) na Grand Place de Bruxelas ou na Plaza Mayor de Madrid. Em todos esses locais predominam o chamado comércio cultural, a hotelaria e restauração ou as lojas de (mais ou menos sofisticadas) recordações... Tal como na imensa maioria dos núcleos dos centros históricos das mais importantes cidades europeias. Onde o único trânsito automóvel permitido é o de moradores e o de cargas e descargas para os estabelecimentos comerciais (sempre com horários rígidos e claramente demarcados!).
Tem de ser esse o destino do Rossio de Alcobaça após as suas obras de requalificação e continuo convicto de que serão as leis do mercado a traçar o futuro comercial daquela zona de Alcobaça. É claro que um dos seus actuais grandes problemas é o facto de o comércio maioritariamente existente nessa zona ser o chamado "pequeno comércio familiar", género de comércio que infelizmente já teve o seu tempo e está universalmente ultrapassado no tempo e no espaço... Nos centros das grandes cidades a nível mundial domina já há muitos anos o "comércio das grandes cadeias", que por vezes, chegam a ocupar quarteirões inteiros, como é, por exemplo, o caso dos londrinos Selfridges e Harrod's, entre tantos outros... Estou certo de que a actual crise do comércio alcobacense não foi provocada por aquelas obras de requalificação e sei mesmo (por experiência própria) que ela já existia no final da década de 1980! E tudo o resto me parece pura conversa fiada, para tentar "enfiar Lisboa pelos olhos dentro" a muito boa gente...
Pessoalmente, gostaria que aquela obras de requalificação fossem concluidas ainda durante este ano, motivando assim que Alcobaça pudesse finalmente reflectir sobre essa nova realidade e pensar, caso a caso, como resolver o seu futuro turístico, comercial e vivencial. Teria então chegado o tempo de se acabarem com as desculpas estafadas do dia a dia e arregaçar finalmente as mangas de uma Alcobaça direita ao futuro!
É claro que tudo isso deverá também passar pelo facto de a nossa edilidade ganhar finalmente coragem e tomates para regulamentar o trânsito automóvel na zona histórica da cidade e proibir definitivamente o estacionamento na Praça 25 de Abril! Estou convicto de que a partir desse dia se viverá muito melhor em Alcobaça e esta será uma cidade muito mais rica e racional! E não é por falta de condições políticas que isso não se passa...

4 comments:

Lúcia Duarte said...

olá José Alberto
gostei do que li, embora não concorde com tudo.
o problema não parece ser o de se ter acabado com o estacionamento na Praça 25 de abril, mas sim, as más condições de acesso aos parques existentes nas imediações.
por outro lado, condições politicas para resolver, até há! o que não há é vontade nem coragem politica para as colocar em prática.
também acho que se deveria regulamentar o estacionamento mas se isso fosse para ser cumprido por todos. infelizmente, os maus exemplos vêm de cima!

Alcobacense said...

Ora aí está!
Só que em Alcobaça é mais fácil atribuír as culpas aos outros do que olhar para dentro e meter mão à obra.
Excelente post!

José Alberto Vasco said...

Cara Lúcia: em questões como estas temos de ir por partes. 1º- Terminar a obra. 2º- Edificar os parques de estacionamento e os seus acessos. 3º- Regulamentar o trânsito. Para já, penso que o pior de tudo é ainda não se ter concluido a obra, facto que permitiria uma melhor organização do centro histórico de Alcobaça. Parques de estacionamento já existem e os seus acessos não me parecem assim tão maus (vivo há cerca de um ano na freguesia de Praazeres de Aljubarrota e meio e quando me desloco ao centro de Alcobaça, estaciono o meu carro no parque junto ao Estádio Municipal e faço a minha vidinha a pé, o que além de fazer bem também não é poluente... O problema essencial continua a ser a regulamentação do trânsito no centro histórico, atitude política que afastaria definitivamente a desordem que actualmente por lá campeia... Essa regulamentação, tal como é usual em todo o mundo civilizado, permitiria apenas o acesso automóvel àquela zona aos seus residentes e ao movimento de cargas e descargas (sendo este rigorosamente limitado a um horário entre as 8 e 30 e as 10 da manhã). É assim que se faz nas grandes cidades, um pouco por todo o mundo civilizado...
Quanto às tais condições políticas, elas existem desde os resultados das últimas eleições autárquicas... Não sei quais são os seus conhecimentos de Direito Constitucional, mas em Portugal vivemos num sistema eleitoral representativo, o que significa, preto no branco, que quem vence eleições representa todos os eleitores, incluindo os que nele não votaram ou aqueles que optaram pela abstenção. O Dr Sapinho venceu, como todos sabemos, e o seu programa eleitoral incluia precisamente as obras de requalificação do Rossio. Regressando a Alcobaça e a este problema do Rossio, deverei lembrar-lhe que nestas coisas da política, cara Lúcia, quem manda é o povo, não é a Associação de Comerciantes, que, neste caso, até patrocinou aquele projecto de requalificação desde o início...

José Alberto Vasco said...

Caro Alcobacense: continua a custar-me que muito boa gente continue a criticar o facto de não ter havido discussão e debate públicos sobre o Projecto de Requalificação do Rossio de Alcobaça, quando a verdade nua e crua é que ela existiu. Eu estive lá por várias vezes e houve muito boa gente que lá vi sem dizer nada, manifestando o seu acordo, e que pouco tempo depois apregoava que não tinha havido discussão, como é o caso de alguns comerciantes locais... É claro que o grande problema de tudo isto foi o facto de a Câmara Municipal de Alcobaça ter cometido o enormíssimo erro de atribuir a concepção arquitectónica do projecto sem a realização de uim concurso público. Tal como errou ao executar (quase) toda a obra sem a fazer acompanhar de um Gabinete de Apoio que informasse os munícipes sobre todas as suas ocorrências...
Todavia, o que mais me custa é assistir a toda essa espécie de contestação de uma obra que até foi acompanhada de algum debate, parecendo estar-se nesses casos a defender o que anteriormente lá estava, e que, foi lá impulsivamente edificado, sem qualquer espécie de consulta durante a década de 1950... Vivia-se então sob o jugo ditatorial salazarista e quem abrisse o bico teria a grande possibilidade de ir logo de cana.. O que agora, felizmente, já não sucede!