Saturday, September 15, 2007

CRÍTICAS (PUBLICADAS NA RÁDIO CISTER) AOS CONCERTOS DE CARTA BRANCA AOS TRÊS INSTRUMENTISTAS HOMENAGEADOS PELO ARMAZÉM DAS ARTES NO CISTERMÚSICA

A cerimónia de celebração e homenagem que o Armazém das Artes promove na tarde de domingo, 16 de Setembro, aos três músicos alcobacenses a quem a programação do Cistermúsica 2007 concedeu Carta Branca em três excelentes concertos, leva-me a publicar neste blogue os textos dos três apontamentos críticos que escrevi sobre esses espectáculos. Esses textos foram originalmente publicados na página da Rádio Cister na Internet, e esta sua (re)publicação fica como associação deste blogue à justíssima homenagem que agora vão receber na sua cidade natal.
O primeiro desses apontamentos críticos foi publicado na página da Rádio Cister na Internet, em 19 de Junho, descrevendo o seguinte: “O tubista alcobacense Sérgio Carolino, o quarteto de saxofones Saxofínia, o vibrafonista Jeffery Davis e o pianista e compositor Mico Nissim potenciaram no passado sábado um dos mais convincentes e arrebatadores concertos de sempre em Alcobaça. Perante um Cine-Teatro praticamente esgotado, um bem-humorado Sérgio Carolino demonstrou em palco, na sua terra natal, a sua elevada bitola técnica e interpretativa e as razões porque é já considerado um dos maiores vultos mundiais no seu instrumento: a tuba. Num espectáculo que proporcionou a raridade de integrar quatro estreias mundiais e duas estreias ibéricas, mereceram especial realce as Danças Para um Amigo de Jim Self e Des Fanfares Étranges de Mico Nissim, superiormente interpretadas perante uma sala em cuja plateia há muito tempo não víamos tantos e tão felizes alcobacenses! Nota bem alta mereceu também outra composição de Mico Nissim, Sighs and Kisses, interpretada em notável desempenho por um Saxofínia em que o alcobacense Mário Marques continua a ser pedra fundamental. Jeffery Davis deu também muitíssimo boa conta de si, num concerto em que, todavia, o papel de rei e senhor do palco foi inquestionavelmente Sérgio Carolino, pronunciando genialmente e em todos os sentidos possíveis todo o alfabeto da arte de (tão) bem tocar toda a tuba. Foi um espectáculo memorável, em que não faltou mesmo um inesquecível encore que deixou todo o público completamente siderado pela eloquência interpretativa e criativa de Sérgio Carolino e dos seus pares: 20 valores, com distinção!
O segundo desses apontamentos críticos foi publicado na página da Rádio Cister na Internet em 1 de Julho de 2007, utilizando os seguintes termos: “Este fim-de-semana do XV Cistermúsica ficou assinalado pelo regresso do festival ao sempre acolhedor palco do Mosteiro de Cós e por mais uma das Cartas Brancas que a sua programação deste ano conferiu a notabilizados instrumentistas do concelho de Alcobaça. Coube desta vez essa sorte ao clarinetista vestiariense António Rosa, cujo concerto terá sido o que até agora menos público recebeu durante esta edição do Festival de Música de Alcobaça. Junto a António Rosa esteve em palco o pianista António Oliveira, que ali confirmou plenamente as qualidades interpretativas que anteriormente lhe havíamos reconhecido aquando da gravação do excelente CD de estreia do Projecto XXI, que ambos protagonizam. Contudo, o centro das atenções deste espectáculo era precisamente António Rosa, cuja presença em palco confirmou também as virtualidades e o virtuosismo de um clarinetista cuja carreira tem sido marcada por uma sensatez interpretativa digna do melhor registo. Pessoalmente, penso apenas que a programação escolhida por António Rosa para esta sua Carta Branca terá pecado por alguma falta de risco no que respeita à sua selecção, em que a exemplo do seu recente disco o peso da música culta contemporânea poderia ter sido maior…
Neste concerto achámos essencialmente bem conseguidas as interpretações de Plural III de Fernando C. Lapa e das Três Peças Para Clarinete Solo de Igor Stravinsky, embora os seus momentos mais marcantes se tivessem registado na enleante interpretação dos Cinco Prelúdios de Dança de Witold Lutoslawski, fazendo pela primeira vez inteira justiça a esse relevante compositor polaco durante a História do festival. Uma vibrante ovação do público no final do concerto recebeu em troca um refinadíssimo encore em que António Rosa e António Oliveira nos brindaram com uma lúcida e lúdica interpretação das três últimas Danças Romenas de Bela Bartok. Bem bom!”.

O terceiro desses apontamentos críticos foi publicado na página da Rádio Cister na Internet em 9 de Julho, nele se escrevendo o seguinte: “O intelectivo percussionista Manuel Campos encerrou notavelmente o ciclo de Cartas Brancas a prestigiados instrumentistas alcobacenses integrado na programação do XV Cistermúsica. Fê-lo fazendo História no Cine-Teatro de Alcobaça, seleccionando um peculiar e arrojado serão musical em que (14 anos depois do Miso Ensemble) pela segunda vez durante as quinze edições do festival esse programa foi integralmente preenchido com música culta contemporânea. O concerto iniciou-se em grande estilo, com a feliz e copiosa interpretação de uma completiva Efémera de Luís Carvalho, em que se revelou também fulcral a escolha do clarinetista Nuno Pinto para actuar neste concerto. Seguiu-se a raríssima oportunidade de o público português fruir a notável obra do compositor húngaro György Kurtág, ainda mais relevada pelo facto de Manuel Campos ter escolhido duas suas poéticas composições especificamente concebidas para interpretação nesse característico e complexo instrumento que é o cimbalão, tendo-se Manuel Campos também nesse âmbito exibido de modo exemplar. A primeira parte do concerto seria concluída com uma das (ainda) mais edificantes interpretações deste concerto, com Manuel Campos a maravilhar e seduzir na surpreendente e aliciante Le Grand Jeu, de Bruno Mantovani, para congas e electrónica ao vivo, risco muito bem conseguido em estreia nacional neste espectáculo. A segunda parte do concerto iniciou-se com outro excelente momento, a interpretação de Gestos, composição encomendada pelo XV Cistermúsica a Nuno Corte-Real, uma muito meritória peça em que um seguríssimo Manuel Campos se fez acompanhar pelo violoncelista Marco Pereira, que evidenciou qualidades raras nesse instrumento a nível nacional. Seis anos depois de a ter também irrepreensivelmente interpretado no mesmíssimo palco, Manuel Campos voltou a fazer render a plateia (muito bem preenchida para um concerto deste género) do nosso Cine-Teatro numa indefectível interpretação da sensível Variations on a Japanese Children’s Songs, da japonesa Keiko Abe. Já com o público praticamente a seus pés, Manuel Campos encerrou este seu concerto com uma inexcedível e espectacular interpretação (recebida com alguns bravos!) da inexcedível e espectacular Rebonds B, de Iannis Xenakis, coroando de modo superior esta sua histórica e admirável estreia no Cistermúsica".

Parabéns ao António Rosa, ao Manuel Campos e ao Sérgio Carolino e a Alcobaça por possuir três músicos tão dotados e qualificados!

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