DIA NÃO
De paisagens mentirosas
de luar e alvoradas
de perfumes e de rosas
de vertigens disfarçadas.
Que o poema se desnude
de tais roupas emprestadas
seja seco, seja rude
como pedras calcinadas.
Que não fale em coração
nem de coisas delicadas
que diga quando não
que não finja mascaradas.
De vergonha se recolha
se as faces tiver molhadas
para seus gritos escolha
as orelhas mais tapadas.
E quando falar de mim
em palavras amargadas
que o poema seja assim
portas e ruas fechadas.
Ah! que saudades do sim
nestas quadras desoladas.
JOSÉ SARAMAGO
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