Monday, January 29, 2007

REFERENDO DE 11 DE FEVEREIRO: A PERGUNTA E OS SEUS CONCEITOS

Iniciando-se amanhã o período legal de campanha antes do referendo que 11 de Fevereiro chamará os portugueses a pronunciar-se sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, achámos oportuno hoje aqui publicar um pertinente e esclarecedor texto incluido num folheto de propaganda da Juventude Socialista sobre esse assunto. O título/tema desse texto é A Pergunta e os Seus Conceitos, merecendo o mesmo leitura apurada, a fim de confirmarmos o que estará efectivamente em causa nessa votação, começando por relembrar a pergunta a que nesse dia iremos responder SIM ou -não-...
A pergunta é: Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
O texto explica seguidamente, em cinco alíneas, os conceitos inerentes a essa questão, do seguinte modo:
a) Despenalização-
Apesar do crime de aborto ser punido com pena de prisão até 3 anos, encontram-se previstas diversas situações de interrupção da gravidez não punível na lei actual. A pergunta do referendo relaciona-se com o alargamento das situações em que a interrupção da gravidez não é punida. Não se trata, portanto, de liberalizar o recurso à interrupção voluntária da gravidez, mas sim de identificar mais um caso em que ela não deve ser punida.
b) Interrupção Voluntária da Gravidez-
A referência na pergunta aprovada pela Assembleia da República à interrupção voluntária da gravidez recorre ao conceito que já se encontra no Código Penal para os casos de não punição, tornando claro que a intenção da iniciativa é a de despenalizar a conduta. O artigo 142.0 do Código Penal refere-se à interrupção da gravidez não punível.
c) Até às Dez Primeiras Semanas-
Trata-se de identificar um limite temporal em que o recurso à interrupção voluntária da gravidez seja o mais seguro possível para a saúde da mulher que recorre ao procedimento, permitindo-lhe um período de tempo para ponderar a sua decisão, em termos semelhantes à legislação de outros países. Note-se até, que na maioria dos países europeus, o prazo mais comum é de 12 semanas.
d) Por Vontade da Mulher-
Esta referência na pergunta visa esclarecer que estamos perante uma decisão livre da mulher que pretende interromper a gravidez, sendo um elemento essencial a inesxistência de coação e a possibilidade de formular uma escolha consciente e acompanhada.
e) Em Estabelecimento de Saúde Legalmente Autorizado-
Finalmente, aexigência de que a interrupção tenha lugar em estabelecimento de saúde legalmente autorizado visa assegurar as condições de segurança e de saúde para a realização do procedimento, permitindo eliminar o flagelo do aborto clandestino e enquadrar a interrupção voluntária da gravidez no contexto global do sistema de saúde, assegurando aconselhamento, acompanhamento posterior e a introdução na rede de apoio ao planeamento familiar.
Devo confessar que este texto coloca todos os pontos nos iis sobre os conceitos inerentes ao que estará em causa no próximo referendo de 11 de Fevereiro. Basta sabermos ler, sabermos entender o que lemos e ter dois olhos na cara para nos consciencializarmos que votar SIM nesse referendo é um imperativo de ordem moral e nacional!

5 comments:

António Balbino Caldeira said...

Não estamos de acordo neste assunto, José Alberto.´

A questão do "estabelecimento de saúde legalmente autorizado" não chega para desmentir a liberalização, substituída então pela despenalização.

Na verdade, o aborto a pedido consiste exactamente na liberalização.

Depois, a questão das 10 semanas é apenas um marco de referência. Se o referendo tivesse uma vitória do Sim, ninguém (nem a mulher, nem as enfermeiras ou médicos ou clínicas) será penalizado se for depois dessa data. Até, ao "partial birth abortion" dos EUA não haverá qualquer penalidade, na prática.

José Alberto Vasco said...

Caro António: embora neste caso não estejamos de acordo, penso que isso não nos tornará inimigos.
Para mim, trata-se mesmo de despenalização, no âmbito enquadrado pela pergunta a que responderemos em 11 de Fevereiro. O que em termos legais, caso vença o SIM, acrescentará uma quarta alínea, ou seja, a um quarto caso em que, face aos três previstos na actual lei, será permitida a interrupção da gravidez. Para mim, liberalização, e no pior sentido, é o que existe actualmente, com o funcionamento de um mercado paralelo em que o aborto é praticado sem a necessária e indispensável qualidade dos serviços de saúde legais para onde a vitória do SIM neste referendo pretende encaminhar as mulheres que optam pela interrupção voluntária da gravidez. E repare, António, que este problema diz essencialmente respeito às mulheres com menos recursos financeiros, que não têm possibilidade de recorrer a clínicas espanholas ou afins...
Quanto à questão das 10 semanas, concordo consigo quando diz que elas são, neste caso, um marco de referência. O próprio conceito da pergunta em relação a essa questão refere isso mesmo, identificando esse período como "um limite temporal em que o recurso à interrupção voluntária da gravidez seja o mais seguro possível para a saúde da mulher". Penso que essa opção até é muito acertada no que respeita à pergunta a que responderemos neste referendo, dado que na maioria dos países europeus que aprovaram leis idênticas esse prazo é de 12 semanas, chegando mesmo na Inglaterra a 24, não é?
Continuo convicto de que a vitória do SIM proporcionará melhores vias de minorar os terríveis malefícios que a prática clandestina do aborto continua a provocar em Portugal, pensando que a despenalização facultará melhores resultados que a actual criminalização, que se tem mostrado inócua para resolver esse problema.
Da minha parte, continuarei a levantar bem alto a bandeira do voto SIM em 11 de Fevereiro, sabendo que o António está também muito convictamente do lado contrário. Só espero que até àquela data o debate e a discussão a nível local e nacional sejam tão sinceros e civilizados como o nosso. Um abraço!

ANTONIO DELGADO said...

Caros Amigos;

desculpem intrometer-me no vosso interessante dialogo. Uma das questões senão a mais importante a que se deve o referendo sobre o aborto, está expressa, neste excerto, do EL PAIS, na edição de hoje 31/1/2007. ( O Jornal LIBERACIÓN e a revista alemão STERN fizeram, fez algum tempo noticias de semelhante teor a este excerto.


“Todo el mundo está por principio contra el aborto, pero, como ha quedado probado en estos años, la ley no ha evitado una realidad que coloca a Portugal en la "vergüenza nacional del aborto clandestino" y que se resume en la criminalización de mujeres y profesionales, una gran desigualdad social y en graves problemas de salud pública: 18.000 abortos clandestinos y cerca de 11.000 ingresos anuales en urgencias a causa de complicaciones en intervenciones caseras (generalmente con la ingesta de Cytotec, un protector estomacal).” Artigo assinado por Miguel Mora...APENAS ISTO!

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/gana/terreno/inicio/campana/aborto/Portugal/elpepusoc/20070131elpepisoc_1/Tes

Em minha opinião o NÃO favorece, entre outras coisas, parte de uma economia paralela muito profícua no país e faz de Portugal, um dos excelentes exemplos, do tipo de mentalidade que permite este sub mundo económico no seio da CE. E serve também, e, igualmente em meu ver, os interesses dalguns dos sectores mais reaccionários de Portugal ( certa extrema direita e certo catolicismo de carácter ultramontano). Há poucos anos e cito de memória: “Paulo Portas dizia de “forma convicta”, perante as televisões que a maré negra do Prestige não tocara Portugal por termos a protecção de Nossa Senhora”. O bispo da Guarda diz que “ aborto é pena capital” . Outros proeminentes católicos afirmam coisas parecidas a que o aborto é igual a crimes de SADAM.. Etc . Estas afirmações que considero legitimas, incomodam-me porque são retratos fidedignos de PURTÊGAL ( como prenuncia Sócrates a identidade do Pais) e é pena para os PURTEGUESES ( transcrevendo a dicção do 1º Ministro) serem analisados por estas opticas. No entanto, estes instantâneos, não deixam de ser grande parte da realidade do Pais e que a OCDE confirma com as suas estatísticas sobre Ciência, Educação e Cultura .

Caso estejam interessados há um excelente debate, para todos os gostos, sobre o aborto no Portal CIÊNCIA VIVA.

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=17303&id=

Cordialmente
António Delgado

José Alberto Vasco said...

Caro António Delgado: Muito obrigado pelo seu comentário e pela sua preciosa achega. Continuo esperançado que o debate corra o mais civilizadamente possível até 11 de Fevereiro...

ANTONIO DELGADO said...

Tirando as militancias radicais, algumas delas já conhecidas, sou de crer que o debate será civilizado.